MADEIRA COM QUALIDADE OU ACESSÍVEL?

* Por Manoel Francisco Moreira

Há dois anos, em minha coluna aqui na Madeira Total, escrevi sobre as dificuldades da indústria de madeira sólida de eucalipto quanto à escassez de pesquisas voltadas para a melhoria da qualidade das toras para uso em serraria e laminação. Em contrapartida, as pesquisas sobre a silvicultura do eucalipto, destinado à indústria de celulose, iam muito bem e mostravam-se uma boa estratégia para o setor.

Fazendo uma análise, hoje, parece que o cenário muito pouco mudou, a não ser por um punhado de silvicultores abnegados que investem em pesquisa. No dia 10 de março, ocorreu uma reunião técnica na Câmara Municipal de Imbaú, ocasião em que um viveirista de Santa Catarina apresentou seu trabalho com um clone de eucalipto, geneticamente melhorado e com características superiores, principalmente em relação ao rachamento. Um pequeno grupo de silvicultores e serradores esteve presente ao evento, que teve a iniciativa de um dos silvicultores. Ou seja, exceto por iniciativas particulares como essa, não se tem notícia de pesquisa sobre melhoria da qualidade da madeira serrada/laminada de eucalipto.

No comércio de madeira entre retalhadores (madeireiras em geral), há uma certa desconfiança em relação ao uso da madeira serrada de eucalipto, motivada pela qualidade da madeira disponível. Quais são os principais problemas? Rachamento e empenamento. Além disso, identificamos outro ponto crítico: a qualidade da madeira como produto, que depende do desenvolvimento de pesquisas no setor. No entanto, sabe-se que grande parte dos problemas apontados está relacionada ao grau de umidade que o produto entregue ao consumidor apresenta.

A secagem de eucalipto não é um trabalho que pode ser feito por qualquer um. Contudo, serrar e comercializar também não. Existem vários métodos de secagem, todos com suas características e custos, que devem ser analisados de acordo com o ambiente do produtor, dos quais, é possível destacar alguns:

Secagem Natural (Secagem ao ar): processo pelo qual a madeira é empilhada em locais abertos ou cobertos, permitindo a evaporação natural da umidade. Esse método é econômico, mas demorado, podendo levar meses. Outro empecilho é que depende das condições climáticas e pode resultar em secagem desigual.

Secagem em Estufa Convencional: usa câmaras fechadas com controle de temperatura, umidade e circulação de ar. Permite um controle maior da secagem, reduzindo rachaduras e empenamentos. Esse método pode ser realizado com diferentes fontes de calor, como lenha, vapor e eletricidade.

Secagem em Estufa de Condensação: utiliza um sistema de desumidificação para remover a umidade do ar dentro da câmara. Trata-se de um método mais eficiente em termos de energia e é indicado para pequenas e médias indústrias.

Secagem por Micro-ondas: usa ondas eletromagnéticas para aquecer e remover a umidade rapidamente. Essa secagem é muito eficiente, mas tem um alto custo de instalação. É ideal para madeiras com alta umidade inicial.

Secagem por Vácuo: reduz a pressão dentro da câmara, diminuindo o ponto de ebulição da água e acelerando a secagem. Esse método preserva melhor a cor e reduz defeitos, mas tem um custo elevado.

Secagem Híbrida: esse método combina diferentes tecnologias, como a secagem ao ar seguida de secagem em estufa, otimizando custos e tempo.

Cabe ao empresário produtor escolher o melhor método que se adapte à sua região e à sua economia.

Entretanto, daí, vem a questão: qualquer um deles é caro e o consumidor final não está preparado para pagar a conta. Entramos, pois, na seguinte equação: o eucalipto serrado não tem valor porque não tem qualidade, mas é “barato”. Se colocamos qualidade, custa mais caro e, como consequência, não vende. Ou seja: sem qualidade mantém a rejeição; com qualidade o consumidor considera caro. O que fazer? Não temos a resposta pronta, infelizmente. Porém temos certeza de que a indústria produtora de madeira sólida deve se esforçar para produzir produtos que atendam às exigências do consumidor.

Recordo de outro problema do setor que precisou ser resolvido: o episódio do Pinus. Essa essência veio para “substituir” a Araucária. (Nota: observem que substituir está entre aspas). Quando a indústria moveleira começou a utilizar o Pinus, usou as mesmas dimensões das peças como se fosse Araucária, pois o Pinus era “pinheiro igual”. Foi um fracasso! Os móveis quebravam com facilidade e logo o Pinus levou a fama de madeira mole e ruim para essa função. Hoje, os marceneiros aprenderam que a resistência de ambas as espécies é diferente e que o dimensionamento das peças de Pinus precisa ser maior. Resultado: o Pinus está se tornando o objeto de desejo do consumidor final devido à sua versatilidade, leveza e resistência.

Essa condição também precisa ser conquistada pelos produtores de eucalipto. No entanto, para alcançar esse nível, é necessário passar pela melhoria da qualidade da produção e secagem da madeira. Por isso, volto a reforçar a importância do investimento em pesquisa, que deverá gerar bons frutos, bons produtos e bons lucros.

 

* Manoel Francisco Moreira, engenheiro florestal, formado pela UFPR.
Cursos: MBA (USP), Economia Empresarial (UFRGS), Mercado-Floresta-Industria (Swedish Universität). Gerente e diretor de empresas multinacionais e brasileiras ao longo da carreira. Fale comigo: [email protected] | (42) 9 9136.3588.

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Consultor e engenheiro florestal.

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Mario Coso

Engenheiro Florestal e Mestre em Administração. Partner na ESG Tech Consulting.