Esqueça os mitos: embalagens longa vida são recicláveis e sustentáveis, sim

*Por Cristiano Macedo

O Brasil ocupa a quarta posição entre os países que mais geram resíduos sólidos no planeta. De acordo com dados do Banco Mundial, anualmente, mais de 2,4 milhões de toneladas de plástico são descartadas de forma irregular no país e cerca de 7,7 milhões de toneladas de lixo são destinadas a aterros sanitários.

Nesse contexto, a economia circular ganha tração como uma necessidade em diversos setores. Na indústria de papel e celulose, a reciclagem tem se mostrado mais do que uma possibilidade, mas uma urgência. Também há, no entanto, mitos que precisam ser desconstruídos, especialmente quanto à reciclabilidade de determinados materiais e à qualidade dos produtos gerados a partir de aparas.

Um dos equívocos mais comuns está relacionado às embalagens do tipo longa vida, como caixas de leite e suco. Por conterem camadas de papel, plástico e alumínio, acredita-se, erroneamente, que elas não podem ser recicladas. A tecnologia atual, porém, já permite separar com precisão tais camadas, devolvendo cada componente para sua respectiva cadeia produtiva. O papel retorna à produção de novos itens – como folhas, embalagens e copos –, enquanto o alumínio e o plástico seguem para reaproveitamento em outras indústrias. No Brasil, 39,1% dessas embalagens já são recicladas, segundo a Tetra Pak.

Outro ponto crítico é o preconceito persistente com papéis reciclados que não mantêm a cor branca pura. Há empresas que hesitam em adotar copos, papéis e embalagens recicladas mais escuras, como se a cor indicasse menor qualidade ou segurança. Na verdade, a coloração está relacionada ao tipo de fibra reutilizada, não à eficiência do produto final. Papel reciclado escuro pode ser tão confiável quanto o branco, com a vantagem de ser ainda mais sustentável.

Para atingir a eficiência e a sustentabilidade, o papel passa por um processo de reciclagem que segue um fluxo estruturado: começa pela coleta, seja por cooperativas, empresas parceiras ou descarte doméstico; passa pela triagem, onde se retiram plásticos, metais e outros resíduos; trituração em grandes desagregadores; separação de impurezas, como areia e grampos, por centrifugação; prensagem para retirada da umidade; e, por fim, transformação em novas folhas por meio de rolos compressores. O resultado é um material de qualidade, pronto para ser reintroduzido no mercado.

Tem-se aqui, ainda, um aspecto ambiental crucial: o descarte de papel em aterros sanitários representa uma ameaça grave ao solo. Quando descartado em ambientes úmidos e anaeróbicos, até se decompor, o papel pode liberar substâncias que contaminam o solo e os lençóis freáticos. Ao reciclar, evitamos esse passivo ambiental.

A reciclagem de pós-consumo, por outro lado, é mais desafiadora do que a de resíduos industriais limpos (as chamadas aparas pré-consumo), pois exige controle microbiológico e aplicação de aditivos específicos para garantir a pureza da fibra. Mesmo assim, centros de triagem e indústrias especializadas têm avançado nesse campo, demonstrando que é possível transformar até os resíduos mais complexos em novas matérias-primas com alto valor agregado.

Com tecnologias cada vez mais sofisticadas e parcerias entre fabricantes, recicladoras e centros de coleta, o mercado tem o potencial para abandonar os mitos e preconceitos. Embalagem longa vida é reciclável, sim. Papel reciclado mais escuro também é de confiança. E a reciclagem, quando bem feita, não é só ambientalmente responsável, mas socialmente inclusiva e economicamente viável, além de essencial para o futuro da indústria de embalagens.

Grupo Technocoat
Com mais de 25 anos no setor papeleiro, o Grupo Technocoat está instalado em Telêmaco Borba e Araucária, no Paraná, e em Otacílio Costa, em Santa Catarina. Com investimentos contínuos em tecnologia de ponta e na capacitação de colaboradores, a empresa oferece produtos e serviços focados em inovação e sustentabilidade, respeitando boas práticas de segurança, higiene e uso de produtos químicos. Seus produtos são produzidos a partir de fontes renováveis e certificadas pelo FSC – Conselho de Manejo Florestal.

 

By V3 Com
Foto: Divulgação

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Consultor e engenheiro florestal.

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Engenheiro Florestal e Mestre em Administração. Partner na ESG Tech Consulting.