Estudo global alerta: em 20 anos, um terço dos brasileiros terá 60 anos ou mais; especialista defende que o tema seja tratado como pauta de estratégia e inovação corporativa
Um novo relatório do Fórum Econômico Mundial, em parceria com o AARP, lança luz sobre uma mudança demográfica sem precedentes: até 2050, o Brasil terá mais de 30% de sua população composta por pessoas com 60 anos ou mais. O estudo, intitulado Future-Proofing the Longevity Economy, alerta que as empresas precisam rever suas estratégias organizacionais, não apenas para lidar com equipes multigeracionais — que já podem somar cinco gerações ativas no mesmo ambiente de trabalho —, mas também para compreender os impactos do envelhecimento sobre o comportamento do consumidor, o desenho de produtos e a oferta de serviços no médio e longo prazo.
A chamada “economia da longevidade” deve se tornar um dos maiores motores de crescimento global nas próximas décadas. Dados do relatório apontam que, até 2080, haverá mais pessoas com 65 anos ou mais do que crianças com menos de 18 anos no mundo. Em 2050, a população global com 65+ deverá atingir 1,6 bilhão, o que representa uma em cada seis pessoas nessa faixa etária.
Para atender a essa nova configuração, será necessário criar 475 milhões de empregos no setor de cuidados até 2030 — número essencial para suprir as crescentes demandas de cuidado profissional, suporte médico e serviços especializados. O estudo também chama atenção para o impacto financeiro do cuidado familiar: pais que interrompem suas carreiras — especialmente mães — para cuidar de familiares, podem se aposentar com até 22% menos de economia previdenciária do que aqueles que permanecem no mercado de trabalho. Nos EUA, por exemplo, quase 70% dos cuidadores familiares relatam dificuldade em conciliar trabalho e cuidados, e cerca de 30% já reduziram sua jornada ou passaram a trabalhar meio período.
No Brasil, onde o debate sobre longevidade ainda se concentra majoritariamente em questões previdenciárias e de saúde, o desafio é ampliar o olhar para a transformação profunda que esse cenário impõe à governança corporativa e à inovação estratégica.
Para Jurema Aguiar, especialista em governança e conselheira com atuação em empresas e organizações nacionais e internacionais, o tema da longevidade precisa sair da pauta assistencial e ser incorporado às decisões de negócio.
“Estamos falando de uma mudança estrutural. Longevidade não é só um desafio para políticas públicas, mas um campo vasto de oportunidades para as empresas — desde a forma como recrutam e retêm talentos até a maneira como desenvolvem soluções, produtos e experiências para um consumidor que está envelhecendo. Isso exige conselhos mais preparados para olhar o longo prazo com responsabilidade e visão de futuro. O mundo está envelhecendo, e a economia precisa envelhecer bem junto com ele”, afirma Jurema.
O estudo também aponta que empresas que se adaptam mais rapidamente à economia da longevidade colhem benefícios como maior lealdade de clientes maduros, fortalecimento da marca, retenção de talentos experientes e conexão com novos mercados. Por outro lado, aquelas que ignoram essas transformações podem se tornar irrelevantes diante das novas configurações sociais e econômicas.
Sobre Jurema Aguiar de Araujo*
30 anos de experiência em gestão empresarial como CMO e CEO, liderou processos de expansão, inovação e desenho estratégico em grandes empresas nacionais e multinacionais, como M.Dias Branco, Bunge Alimentos, Hypera Pharma, Avon (atual Natura & Co) e Castrol/BP.
Atualmente, Jurema é Conselheira Independente da Cellera Farma, da Dois Cunhados HortiFrutti e da Fundação Otacílio Coser, além de membro da Comissão de Estratégia & Inovação do IBGC.
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