A popularização das práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) fez com que 61% das empresas brasileiras enxergassem a área como uma estratégia de negócio. A realidade operacional, porém, conta outra história: apenas 39% dessas organizações estruturaram um departamento específico para cuidar da questão, como revela a oitava edição do “Estudo de Sustentabilidade” da BDO Brasil.
O estudo mostra, ainda, que apenas 37% das empresas publicam anualmente relatórios de sustentabilidade. Desses documentos, 41% são baseados em metodologias próprias, e 24% passaram por verificação externa.
Para reduzir essa defasagem, as corporações estão em busca de inserir o tema ESG em treinamento de compliance a fim de assegurar que os colaboradores dominem aspectos técnicos e regulatórios da área.
Barreiras estruturais impedem avanço das práticas ESG
As três principais barreiras identificadas para o avanço da sustentabilidade nas empresas são a existência de outras prioridades estratégicas, mencionada por 69% dos respondentes do estudo, seguida pela dificuldade na disseminação da estratégia entre os colaboradores (23%) e pelas questões relacionadas à dotação orçamentária ou capilaridade de captação (8%).
A fragmentação de prioridades reflete nas práticas cotidianas. Menos da metade das 150 empresas avaliadas no estudo mantêm um diálogo com os funcionários sobre o uso consciente de água, enquanto 65% não controlam as emissões de gases estufas por meio de inventário.
Por outro lado, 74% demonstram preocupação em comprar prioritariamente materiais recicláveis, enquanto 63% realizam a separação de todos os componentes de resíduos para destinação correta.
Governança corporativa apresenta desafios de implementação
Boas práticas de governança fazem parte da cultura organizacional de 61% das empresas pesquisadas. Contudo, quando se trata de monitoramento da cadeia de suprimentos, apenas 37% verificam se fornecedores diretos atuam em consonância com ESG. A discrepância indica que governança corporativa e compliance devem fazer parte do programa de ESG de forma mais integrada e sistemática.
Outra pesquisa, realizada pela Bells & Bayes, corrobora a necessidade de maior rigor: embora 63% das companhias brasileiras já tenham publicado algum tipo de relatório de sustentabilidade, apenas 29% tiveram os dados auditados ou assegurados externamente. O cenário evidencia a urgência de padronização e verificação independente das informações de ESG.
Engajamento dos colaboradores revela ceticismo
Outra pesquisa, realizada pelo Tec Institute em parceria com a MIT Tech Review Brasil, traz revela que oito em cada dez colaboradores não acreditam que suas empresas executem um trabalho muito bom ou excelente em práticas ESG. Entre as iniciativas mais trabalhadas pelas organizações estão a gestão de resíduos e reciclagem (30%), o respeito aos direitos humanos (40%) e a prevenção à corrupção (31%).
Esse ceticismo contrasta com a expectativa dos consumidores: estudo do IBM Institute for Business Value aponta que 62% das pessoas estão dispostas a pagar mais caro para comprar de empresas que se destacam por iniciativas sustentáveis. Além disso, 95% dos brasileiros priorizam empresas que investem em práticas sustentáveis e responsabilidade social.
Mercado de investimentos ESG pressiona por mudanças
O cenário financeiro intensifica a pressão para que as empresas estruturem adequadamente as práticas ESG. Segundo levantamento da Bloomberg Intelligence, os investimentos na área já representam mais de um terço do total de ativos sob gestão e podem alcançar US$ 53 trilhões até dezembro. Empresas que não obtiverem boas pontuações de ESG tendem a ser excluídas dos fundos e índices especializados, o que já acontece no Brasil.
As responsabilidades ambientais, sociais e de governança das empresas estão sendo cobradas por diferentes públicos: investidores, clientes, funcionários, comunidades e órgãos reguladores. Organizações com classificação ESG inadequada podem encontrar barreiras ao buscar investimento externo, já que os relatórios das agências de classificação fundamentam decisões de investidores institucionais.
Na dimensão social, 61% das empresas promovem doações e incentivam funcionários a apoiar causas filantrópicas. O Global Impact Investing Network registra que 91% dos investidores de impacto consideram o engajamento local fundamental para resultados sustentáveis. O movimento de mudança nas empresas ocorre principalmente devido à pressão de stakeholders como acionistas, consumidores, fornecedores e comunidades locais.
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