Para Rafael Maluf, sócio do CGM Advogados, retomada exige estabilidade macroeconômica e governança. Melhora do cenário fiscal e reformas pró-mercado podem destravar o pipeline a partir do segundo semestre de 2025
O mercado de capitais brasileiro atravessa um período de letargia quando o assunto são novas aberturas de capital. Desde 2021, o país não registra um único IPO, refletindo o cenário macroeconômico desafiador e a aversão ao risco por parte dos investidores. Para Rafael Maluf, sócio responsável pela área de mercado de capitais do CGM Advogados, é necessário um conjunto de fatores para destravar novos IPOs.
“Vivemos um ambiente de juros elevados, inflação persistente e incertezas políticas, tanto no Brasil quanto no exterior, que reduziram o apetite do investidor por ativos de risco. Com isso, o mercado acionário perdeu espaço para aplicações mais conservadoras, e muitas empresas optaram por adiar seus planos de IPO”, afirma Maluf.
Além do contexto macroeconômico, questões estruturais também dificultam a retomada. “A percepção de instabilidade regulatória, os custos elevados de compliance e a exigência por práticas robustas de governança afastam empresas que ainda não estão prontas para esse nível de exposição. Isso tudo somado a uma janela de mercado fechada cria um cenário de baixa tração”, avalia o advogado.
Apesar dos entraves, Maluf vê sinais de movimentação por parte das instituições reguladoras. “Tanto a CVM quanto a B3 têm buscado flexibilizar regras e simplificar processos, especialmente para empresas emergentes. Mas ainda dependemos de um ambiente mais previsível, com juros mais baixos, estabilidade fiscal e maior confiança do investidor”, diz.
Segundo o especialista, governança, transparência e maturidade empresarial são pré-requisitos inegociáveis para o sucesso de uma oferta pública. “O IPO não é só uma forma de levantar capital, mas um compromisso com um novo nível de prestação de contas. O investidor precisa confiar nas informações que recebe para precificar corretamente o risco. Empresas maduras e bem estruturadas tendem a ter mais sucesso nesse processo.”
Do ponto de vista internacional, o Brasil continua sendo observado com interesse, embora com cautela. “O país ainda é atrativo por seu tamanho, potencial de consumo e diversidade de ativos estratégicos. Mas o investidor estrangeiro faz comparações com outros emergentes, e aspectos como segurança jurídica, risco fiscal e estabilidade política pesam bastante”, explica Maluf.
M&As no radar
Enquanto os IPOs seguem em compasso de espera, o mercado de fusões e aquisições (M&A) se mostra aquecido. “As empresas buscam ganho de escala e eficiência, e os investidores encontram ativos a preços interessantes. Os fundos de private equity também têm apostado forte, com foco no médio prazo”, pontua.
Entre os setores que puxam esse movimento, Maluf destaca os tradicionais. “Saúde, energia e agronegócio continuam liderando os M&As. Já quando falamos em IPOs, esperamos que, em uma retomada, empresas de tecnologia e startups retornem com força, mas com modelos de negócio mais resilientes e com menos dependência de crescimento acelerado a qualquer custo”
Tendências como ESG e transformação digital também têm ganhado protagonismo nas decisões de mercado. “Essas pautas deixaram de ser acessórios e passaram a influenciar diretamente a diligência e o valuation, tanto em IPOs quanto em M&A. Companhias que não se adaptarem a essas exigências tendem a perder valor e oportunidades”, alerta.
Apesar dos desafios, há otimismo moderado para os próximos anos. “Se houver queda nos juros, maior previsibilidade fiscal e continuidade das reformas pró-mercado, 2025 pode abrir uma nova janela para IPOs. Já vemos empresas se preparando e monitorando o cenário para aproveitar a próxima onda”, acredita.
Para as companhias que cogitam uma abertura de capital, o recado é claro: preparação de longo prazo. “Um IPO é uma maratona. Começa com a estruturação societária, passa pela governança, comunicação com o mercado e exige um plano de negócios consistente. É essencial contar com parceiros experientes, como bancos, advogados, auditores e estar pronto para viver sob os holofotes”, conclui.
Sobre o CGM Advogados
Com mais de dez anos de atuação e um grupo de sócios que está junto há mais de 20 anos, o CGM Advogados é um escritório de advocacia full service, com expertise nas mais diversas áreas do Direito Empresarial. Atendendo a mais de 900 clientes atualmente, o CGM Advogados representa nomes como Syngenta Seeds, Maersk, Idea Zarvos, CVC Corp, Citibank, Cielo e Grupo Volkswagen. Mais informações: https://www.cgmlaw.com.br/
By Bowler
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