Produtos florestais não madeireiros são parte importante na conservação da floresta
Recentemente, duas novas certificações FSC chamam atenção para um mercado com enorme potencial: o de produtos florestais não madeireiros. “A inclusão de comunidades tradicionais e indígenas no Sistema FSC e o fortalecimento da certificação de produtos não madeireiros, nos indica que estamos no caminho certo de pensar as florestas de maneira integrada, usando de forma responsável seus recursos naturais e valorizando seus habitantes”, diz Aline Tristão, diretora-executiva do FSC Brasil.
Primeiro, a Associação Soenama do Povo Indígena Paiter Suruí, em Cacoal, Rondônia, obteve a certificação FSC para uma área de pouco mais de 90 hectares. Mas o significado – e o potencial – dessa conquista é enorme. O selo valoriza os nossos produtos e reforça nossa ligação com a terra e com a sustentabilidade”, explica Isaque Mopilô Tavá Surui, presidente da Associação.
Hoje, a Associação produz carvão de babaçu, artesanato de babaçu, farinha de mesocarpo, óleo de babaçu e castanha in natura. O objetivo é ampliar esse leque, alcançar novos mercados, inclusive o internacional, e aumentar a renda da comunidade. “Decidimos nos certificar para valorizar os nossos produtos”, comenta. “Afinal, ao comunicar que eles são colhidos, produzidos e embalados de acordo com critérios rigorosos de manejo florestal, esperarmos vendê-los por melhores preços”. E para Isaque, outras comunidades indígenas, que não podem, por lei, explorar madeira, deveriam seguir o mesmo caminho.
A certificação FSC tem justamente esse papel de aproximar a produção e o consumo responsáveis de produtos florestais madeireiros, que são os mais comuns e conhecidos, mas também os não madeiros, que ainda guarda uma infinidade de possibilidades.
Desde ontem, por exemplo, o Brasil tem o único açaizal certificado FSC do mundo. As áreas de produção são da Associação das Comunidades Tradicionais do Bailique (ACTB), um arquipélago que fica a 160 quilômetros de Macapá, composta por aproximadamente 100 produtores de açaí. “Para o açaizal progredir é preciso de luz do sol, água e outras espécies de árvores próximas”, diz Geová Alves, presidente da ACTB. “Por isso é tão importante manter a floresta em pé”, explica.
Para Rubens Gomes, diretor executivo da Oficina Escola de Lutheria da Amazônia (OELA), que apoiou a ACTB durante todo o processo, “a certificação é resultado do empoderamento, autonomia e do engajamento comunitário”. Agora, a ideia é entrar num mercado diferenciado e criar um fundo financeiro que, entre outras coisas, financiará a futura Escola Família Agroextrativista do Bailique. O objetivo é melhorar a qualidade e quantidade da produção na região e dar continuidade ao legado de conhecimento sobre a floresta que a comunidade tem.
Babaçu de Cacoal
Açaí de Bailique
Por Camila Carvas | GWA