Para contextualizar o papel do setor florestal nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da Organização das Nações Unidas (ONU), a Rede Mulher Florestal, com o apoio da CMPC e da Embrapa Florestas, promoveu, durante o XXV Congresso Mundial da União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO), um evento paralelo com o tema “Florestas e ODS: experiências e perspectivas”, com cases das empresas. A moderadora do evento foi a pesquisadora da Embrapa Florestas, Edina Moresco, que, recentemente, assumiu a coordenação da Comissão Local de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade.
Para Mariana Schuchovski, do conselho diretor da Rede Mulher Florestal, os objetivos e a Agenda 2030 da ONU já estão sendo bastante discutidos, e é preciso reconhecer o setor e todas as organizações que já vêm adotando boas práticas para aplicação dos ODS nas florestas.
“As florestas têm um papel muito relevante no atingimento de vários objetivos, como o 13, de mudanças climáticas, o 15, que se refere a vidas terrestres, e vários outros que se relacionam, direta ou indiretamente, ao setor florestal. Por isso, precisamos trazer a público esse importante papel e evidenciar a contribuição das empresas e do setor com trabalhos voltados para isso. Nosso objetivo é inspirar, engajar, fomentar outras prática no setor e em outras áreas também”, afirmou.
Segundo Nicholas Gordon, da CMPC Chile, uma empresa global que completa 100 anos em 2020 e está há 10 no Brasil, as metas são bastante desafiadoras, mas o setor florestal tem conhecimento e criatividade para colaborar com esse movimento. Ele disse que é impossível que uma empresa siga nessa jornada sozinha e que é preciso parceria e colaboração.
“Os pares devem aproveitar a gama de conhecimento e identificar novas formas de ajudar, porque o setor tem grande potencial para realizar os ODS. Os produtos das florestas e as próprias florestas são fontes de armazenamento de carbono, algo que é realmente necessário no momento atual”, ressaltou.
Pensando nisso, a CMPC desenvolveu, ao longo de 12 meses, um “Roadmap” para servir como um guia das empresas para acessar as melhores práticas e as soluções inovadoras para conquistar um futuro resiliente e sustentável. “Esse guia estabelece o alinhamento do setor com os ODS. Queremos saber globalmente o impacto das nossas atividades, o que estamos fazendo e o que poderemos fazer no futuro”, complementou.
Um dos pontos de defasagem do setor florestal percebido pela empresa durante a produção do roadmap foi a questão de equidade de gênero. Por isso, ele afirmou que as empresas devem usar os objetivos para mudar essa realidade, com esforços, programas, abordagem de gestão e trabalho para desenvolver lideranças. Segundo ele, essas ações vão abrir novas portas para as mulheres no segmento. Agora, com o guia, um grupo de soluções florestais vai realizar uma reunião em Lisboa, Portugal, para discutir os planos de ação para os pontos levantados.
“Vamos começar com engajamento contínuo e a contribuição do nosso setor para os ODSs. Nosso compromisso é avançar. Vamos revisar os indicadores-chave e alinhar com as capacidades de impacto. Atuamos como catalisadores, estimulando o diálogo e a colaboração. A implementação exige a mudança de tendências e desenvolvimento de políticas, além de outros esforços, mas, nos próximos 10 anos, precisamos olhar para essa base e ver quais tendências e mudanças nas políticas podem ter impacto neste caminho”, garantiu
Após a apresentação de Gordon, Ivone Namikawa, da Klabin S.A, destacou o trabalho que vem sendo realizado pela empresa, seguindo um pouco do conceito do roadmap apresentado pelo representante da CMPC Chile. Ela afirmou que a Klabin está trabalhando “no sentido de produzir benefícios não só econômicos, mas também para os trabalhadores, a comunidade, a sociedade em geral e o meio ambiente”.
Segundo Ivone, a questão da biodiversidade é “absolutamente importante” para a Klabin, o que tem ligação com os ODSs 13 e 15. Ela citou que, nos trabalhos da empresa, já foram listadas 728 espécies de fauna e 108 espécies de flora, algumas das quais estão, inclusive, ameaçadas de extinção, e isso só é possível graças ao manejo em mosaico realizado pela Klabin. “Isso é manejo florestal responsável. As áreas de florestas plantadas estão entremeadas com as áreas de florestas naturais em forma de mosaico. Dessa forma, biodiversidade, fauna e flora encontram seu abrigo”, reforçou.
Ivone explicou, ainda, que a Klabin está desenhando suas metas e indicadores no curto, médio e longo prazo, e a empresa tem ligado esse planejamento aos objetivos de desenvolvimento sustentável. Uma das metas é conseguir produzir sua matéria-prima sendo “amiga do meio ambiente”. Além disso, ela lembrou que, seguindo o objetivo de sustentabilidade nas cidades e nas comunidades, a companhia tem apostado em programas de desenvolvimento com a restauração das florestas naturais e com a certificação dos pequenos produtores.
“Procuramos incentivá-los nas metas de boas práticas de manejo florestal sustentável. Fazendo isso, estimulamos a restauração das florestas naturais nas suas áreas de preservação permanente e nas áreas de reserva legal. Nesse processo, conseguimos que os pequenos produtores e os fornecedores também sejam certificados. Esses programas proporcionam a eles melhor desenvolvimento econômico, porque identificam outras atividades em potencial”, comentou.
Por fim, a colaboradora citou os trabalhos da Klabin para cumprir o objetivo de energia limpa e inovação em infraestrutura. Entre outras coisas, a companhia gera energia a partir dos resíduos de produção de celulose e também utiliza biocombustíveis. Assim, eles conseguem gerar energia excedente à que é utilizada na própria indústria, e esse excedente é colocado à venda na linha de geração elétrica da empresa. “O que geramos de energia em uma única unidade, a unidade de Ortigueira, pode abastecer uma cidade do tamanho de Londrina”, apontou.
A terceira palestra do evento ficou por conta de Ana Luisa Reis e Ivania Lopes, representantes da Suzano, que falaram sobre protagonismo e liderança feminina apoiados pela empresa. Ivania afirmou que, para a Suzano, esse tema é muito importante e que a companhia trabalha com diagnóstico, plano de ação e monitoramento participativo. Ela citou que, de todos os projetos sociais com mais de oito mil famílias participantes, 36% têm lideranças femininas.
“Mulheres têm liderança e protagonismo na agricultura das famílias. Essas lideranças têm autonomia em gestão, produção e comercialização, independentemente da cadeia produtiva que estejam inseridas. Como a Suzano fortalece outras cooperativas e associações, fizemos um levantamento que apontou que, no último mandato das cooperativas, havia 322 lideranças femininas. Hoje, no novo mandato, o número pulou para 384, um aumento de 20%. Ainda é um resultado micro, mas podemos dizer que estamos alcançando um avanço significativo”, avaliou.
Ana Luisa Reis complementou a fala de Ivania, lembrando do trabalho da Suzano no Maranhão para fortalecer mulheres extratoras de coco. Por lá, eles procuraram resgatar as práticas extrativistas tradicionais na região, que tem um forte porte econômico. Segundo ela, a atividade é majoritariamente feminina, com 90% de mulheres. O mesmo cenário é percebido no universo das profissionais colhedoras de açaí.
Ao fim da palestra, Ana Luísa lembrou que a Suzano tem um programa para identificar a vocação de cada comunidade para encontrar, assim, formas de potencializar a renda. Ao longo desse projeto, que nasceu em 2012, a companhia trabalhou também em um plano de transição agroecológica, o que foi um marco interno.
“Trabalhamos no diagnóstico participativo para construir juntos. Não somos detentores do conhecimento e temos muito para aprender. Esse projeto levou a um salto de 20% nas lideranças femininas. No momento do planejamento, o papel da mulher ficou muito claro para a família e para o grupo. São inúmeras mulheres à frente dos trabalhos e nos renovamos a cada dia para poder melhorar ainda mais esse cenário”, completou.
Realizado pela primeira vez na América Latina, o IUFRO2019 foi promovido pela Embrapa, Serviço Florestal Brasileiro e IUFRO.
Trabalho da Embrapa
Para ajudar as empresas com relação aos objetivos de desenvolvimento sustentável, a Embrapa formou uma equipe com participação de 400 colaboradores, das 52 unidades espalhadas pelo país, para organizar 18 e-books, um para cada ODS e o último para uma apresentação institucional. Cada um deles descreve o que o órgão já faz ou está programando fazer para o alcance das metas.
Durante o evento, a pesquisadora Gisele Freitas Vilela, da Embrapa Territorial, lançou oficialmente a versão em inglês do e-book sobre o ODS 15. Das nove metas previstas para esse objetivo, a Embrapa considerou que poderia contribuir com sete. Com o título “Vida na Terra – contribuições da Embrapa”, a publicação conta com 10 capítulos e trabalho de 39 autores, de 13 unidades. A ação foi conduzida por cinco mulheres pesquisadoras, que vislumbraram a oportunidade de colaborar com a empresa e com os ODS, enxergando, nisso, o trabalho que elas mesmo realizam.
www.embrapa.br/objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel-ods
Rede Mulher Florestal
Durante o encontro, Mariana Schuchovski apresentou aos participantes a Rede Mulher Florestal, uma instituição que surgiu em 2018 para discutir o gênero e promover o respeito à diversidade. “A visão é de que todos nós, homens e mulheres, possamos trabalhar para um futuro no setor em que exista a igualdade de gênero, bem como a igualdade de oportunidades”, revelou.
O trabalho, feito pelo engajamento voluntário das pessoas que acreditam na causa e na possibilidade de transformação dentro do setor e da sociedade, tem por objetivo, entre outras coisas, promover a troca de experiências. A Rede Mulher Florestal tem presença em 13 estados do Brasil e trabalha em cima de sete pilares: mulheres na tomada de decisão; política florestal e gênero; presença e papel das mulheres no setor; igualdade e empoderamento; informação; educação e treinamentos; e gestão. Hoje, são 45 associados, sendo 39 mulheres e quatro homens
“Estamos falando de um movimento que não é para ser endógeno. Não queremos falar de mulheres para mulheres, queremos falar de sociedade para a sociedade, então queremos que todos participem. Além dos ODSs relacionados à natureza, à biodiversidade, à manutenção de árvores, estamos falando também de como esse setor está ajudando a desenvolver a sociedade. Temos um caminho significativo pela frente. Por isso, precisamos nos inspirar e perceber que, para tudo que estamos olhando, existe esperança e muita gente fazendo coisas que vão ao encontro do desenvolvimento sustentável”, concluiu.
Veículo: Embrapa
Imagem: Maria Harumi – Rede Mulher Florestal