Cientistas alertam que redução gerada pela pandemia é passageira; na contramão, Brasil elevará emissões em 2020
Um estudo publicado pela revista Nature Climate Change nesta sexta-feira (7/8) estima que a inclusão de medidas climáticas em planos de recuperação econômica pós-pandemia pode evitar mais da metade do aquecimento global esperado até 2050. O consórcio Constrain , liderado pela Universidade de Leeds, no Reino Unido, monitorou 10 diferentes gases de efeito estufa entre fevereiro e junho de 2020 em 123 países e concluiu que houve redução global de 10-30% nas emissões de diferentes poluentes, como o dióxido de carbono (CO2) e o óxidos de nitrogênio (NOx).
Como essas reduções ocorrem de forma apenas temporária devido às medidas de contenção do novo coronavírus, os estudiosos fizeram modelagens para diferentes cenários de recuperação pós-COVID-19. Pacotes econômicos que incluam medidas climáticas ajudariam a aproveitar essa queda nas emissões e a alcançar a meta do Acordo de Paris de manter temperatura global abaixo de 1.5˚C até 2100. Por outro lado, se outras mudanças estruturais não forem feitas, mesmo com bloqueios sanitários até o final de 2021, a temperatura global seria apenas cerca de 0,01°C mais baixa do que o esperado até 2030 e haveria pouco impacto neste século.
“As escolhas feitas agora poderiam nos dar uma forte chance de evitar 0,3˚C de aquecimento adicional até meados do século, reduzindo pela metade o aquecimento esperado sob as atuais políticas”, afirma Piers Forster, principal autor do estudo e diretor do Priestley International Centre for Climate, em Leeds. “Isto pode significar a diferença entre sucesso e fracasso quando se trata de evitar mudanças climáticas perigosas”.
“Nosso estudo mostra que o efeito real dos bloqueios no clima é pequeno”, alerta a coautora do estudo, Harriet Forster, da Escola Rainha Margaret, no Reino Unido. “O importante é reconhecer que nos foi dada uma enorme oportunidade de impulsionar a economia investindo em indústrias verdes – é isso que pode fazer a diferença para nosso clima futuro.”
O estudo também destaca as oportunidades de se reduzir a poluição do tráfego ao incentivar veículos com baixas emissões, transporte público e ciclovias. “A melhor qualidade do ar terá efeitos importantes sobre a saúde e começará imediatamente a resfriar o clima”, diz Forster.
Brasil na contramão
Enquanto o planeta reduzirá a emissão de gases do efeito estufa em 2020 devido a medidas de contenção da pandemia, no Brasil esses índices devem subir de 10 a 20%, mesmo com a queda brusca da atividade econômica. Isso se deve ao aumento do desmatamento, que é a principal fonte desses gases no país.
A conclusão é do estudo do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Brasil, uma iniciativa do Observatório do Clima que calcula anualmente as emissões e remoções desses gases entre todos os setores da economia. De acordo com a pesquisa, a diminuição da atividade industrial, de transporte e de geração de energia por conta do isolamento social será neutralizada pelas emissões do desmatamento, que está em crescimento acelerado este ano.
O Brasil já era o 6º maior emissor do mundo em 2016 (último ano com dados globais consolidados).
Sobre a CONSTRAIN:
O CONSTRAIN é um programa de pesquisa de 8 milhões de euros, com duração de 4 anos, financiado pela Horizon 2020. Liderado pela Universidade de Leeds, o consórcio CONSTRAIN envolve 14 parceiros e cerca de 40 pesquisadores de 9 países de toda a Europa e Israel. O consórcio se concentra no desenvolvimento de um melhor entendimento das projeções climáticas globais e regionais para os próximos 20-50 anos, assim como na definição de caminhos de emissões para limitar o aquecimento. Mais informações em www.constrain-eu.org/
Por ClimaInfo
Imagem: Freepik
Envie informações, fotos, vídeos, novidades, lançamentos, denúncias e reclamações para a equipe do Grupo Multi pelo WhatsApp 11 9 9511.5824 ou entre em contato pelo (11) 3675.4114