O período de dez anos iniciado em 2010 foi uma “década perdida” em termos de ação climática. Por isso, os governos nacionais precisarão quadruplicar seus esforços (1) a partir de agora para viabilizar os objetivos de longo prazo do Acordo de Paris contra a mudança do clima. Estas são as conclusões de um artigo publicado hoje (04/3) na Nature Commentary que revisou dez anos do Relatório de Lacuna das Emissões (Emissions Gap Report) do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) (2).
Quando esse relatório começou a ser divulgado, há dez anos, o mundo imaginava que tinha cerca de 30 anos para cortar pela metade as emissões globais de gases de efeito estufa. Hoje, sabemos que isso precisa acontecer em apenas dez anos para minimizar os efeitos da mudança do clima. Mudanças incrementais que poderiam facilitar esse trabalho não são mais suficientes.
Se ações climáticas apropriadas tivessem sido implementadas a partir de 2010, os cortes de emissões necessários em 2020 para limitar o aquecimento global em 2oC seriam de 14%. Ao invés disso, as emissões cresceram e agora as reduções a partir deste ano precisam ser de cerca de 55% até 2030 para limitar o aquecimento em 1,5oC. Isso significa que as emissões globais precisam ser reduzidas em 7% ao ano (3).
Neste momento, os compromissos apresentados pelos países (4) estão distantes dessa necessidade. Ao invés de cortar as emissões pela metade em 2030, as propostas nacionais nos levariam a um ligeiro aumento delas.
A boa notícia é que mais países, regiões, cidades e empresas estão implementando transformações rápidas e profundas. Se isso obtiver escala maior, essas transformações podem viabilizar as metas definidas conjuntamente pelos países no Acordo de Paris.
Objetivos de redução de emissões já foram definidos ou vêm sendo considerados por 76 países ou regiões (a União Europeia é a maior delas) e 14 regiões e estados subnacionais (Califórnia, nos Estados Unidos, é a maior). Em algumas localidades, esses planos já avançaram para implementação prática. Juntos, esses territórios representam cerca de 21% das emissões globais de gases de efeito estufa. Enquanto isso, 26 bancos e instituições financeiras deixaram de financiar diretamente novas usinas elétricas a carvão.
Os autores apontam que a lacuna agora é tão grande que governos, setor privado e comunidades precisam entrar em “modo de crise”. Isso significa fazer compromissos climáticos mais ambiciosos, enfocando ações antecipadas agressivas, dando escala a soluções bem sucedidas e traduzindo tudo isso em progresso em todos os setores. Caso contrário, as metas de longo prazo do Acordo de Paris se tornarão inviáveis.
“A ciência é clara: neutralização líquida das emissões o quanto antes é a meta de longo prazo que todos precisamos estar focados”, diz Richard Baron, diretor-executivo da 2050 Pathways Platform. “Compromissos para zerar emissões líquidas já estão direcionando ação imediata e mandando sinais importantes para países, empresas, regiões e cidades. No entanto, ter uma meta de longo prazo não é suficiente. Os governos precisam definir planos para viabilizar essas metas de neutralidade”.
Por Bruno Toledo
Imagem: Dashu83