Em dois dias de debates o setor florestal brasileiro apontou suas principais demandas e desafios. Esta foi a tônica do HDOM Summit, um encontro entre gestores florestais, promovido pela Malinovski, empresa que também organiza a Expoforest, maior feira florestal dinâmica do mundo.
Duzentos e dezoito profissionais participaram do evento que aconteceu dentro do Hotel Blue Tree Faria Lima, em São Paulo, nos dias 10 e 11 de abril. O HDOM Summit foi dividido em dois dias e seis painéis temáticos: Eucalipto Brasil, Pinus Brasil, América Latina, Gestão de Pessoas e Relacionamento com as Comunidades, Processos, tecnologia e competitividade e Planejamento Estratégico do Setor Florestal e Comunicação.
Eucalipto Brasil
No primeiro painel, o moderador Marcelo Schmid, diretor de negócios na América Latina da Forest2Market do Brasil abriu dando números do crescimento da demanda por madeira no Brasil e no mundo. Luiz Calvo Ramires Junior, da Ramires Produtos Florestais, seguiu o raciocínio do moderador e afirmou que o preço da madeira está subindo. De acordo com o ex presidente da Associação Sul-Matogrossense de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas (Reflore), é um bom momento para investir. “Se há dinheiro disponível, invista”, disse ele.
Ramires Junior listou Suzano, Eldorado e Green Plac como as principais empresas consumidoras da madeira produzida no estado do Mato Grosso do Sul. Segundo ele, a celulose intercala com a soja como principal produto exportado pelo estado.
O diretor da TTG Brasil Investimentos, Carlos Alberto Guerreiro, também participou do painel. Ele focou sua apresentação no estado de Minas Gerais. Comentou sobre a geografia e as dimensões do estado. “O estado é grande e temos dificuldades com informações.” Explicou que devido à falta de informações só é possível discutir oferta e demanda baseado nos números de 2018. “Os números que temos em Minas Gerais mostram que a produção de madeira em 2018 foi de 40 milhões de metros cúbicos. Os principais usos, por ordem são: 56% carvão (para produção de gusa), 17% celulose, 15% biomassa, 12% outros.”
O terceiro participante do painel foi Marcos Stolf, CEO Eco Brasil Florestas. Stolf fez a apresentação: “Novas fronteiras para empreendimentos florestais no Brasil”. DE acordo com ele a Eco Brasil Florestas possui 115 mil hectares no Tocantins. 50 mil hectares são plantáveis. Destes, a empresa já tem 36 mil hectares com produção florestal. “Acredito que a Eco Brasil seja a empresa com maior área plantada de eucalipto no estado do Tocantins”, disse ele. Stolf lembrou que o Mato Grosso do Sul foi uma nova fronteira há 40 anos. A área plantada era menor que 100 mil hectares em 1990 e hoje tem mais de 1 MM hectares plantados.
Pinus Brasil
O segundo painel teve Marco Tuofo como moderador. Diretor e CEO da Tree Trading lembrou que no Brasil existe gente muito boa para plantar florestas e fazer melhoramento genético. “Esta produtividade é o que tem compensando a diminuição de área plantadas com florestas de pinus”, afirmou. Destacou em há registro em que a produtividade chega a 55 metros cúbicos por hectare/ano. Para ele houve mudanças recentes nas tendências de mercado para tora de pinus. “Tora grossa será uma especialidade e haverá defcit de tora fina.”
Fábio Brun – Diretor para a América do Sul da RMS, Fabio Brun participou do painel e apresentou o tema “Pinus no Paraná”. Segundo ele a RMS faz a gestão de US$ 4,4 bilhões em ativos florestais, o equivalente à 1,1 milhão de hectares, em quatro países. Praticamente 100% são florestas com pinus.
O diretor de operações da GreenWood Resources Brasil, Fernando Cassimiro da Silva, apresentou o “Mercado de pinus em São Paulo”. Segundo ele, a região sudoeste de São Paulo possui uma cultura com pinus bastante interessante. É composta por 15 municípios, e está na divisa com o estado do Paraná. É a região com menor IDH do estado. “A região está sendo extremamente dinâmica, as coisas que acontecem também são de grande complexidade”, diz ele. A área territorial é de aproximadamente 10 mil km2 e fica distante cerca de 230 km de São Paulo.
O terceiro apresentador do painel foi Fernando Giraldi, diretor de investimentos da Global Forest Partners. Giraldi tratou do “Mercado de Santa Catarina”. A empresa gerencia 600 mil hectares em todo o mundo. “Nossa experiencia em Santa Catarina são seis empresas dentro do portfólio e 50 mil hectares de área plantada. Destaque para 440 mil metros cúbicos anuais que a Solida consome, para exportar 100% para o mercado americano.”
América Latina
Miguel Fabra, gerente de investimentos da Stafford Capital Partners foi o moderador do terceiro e último painel do primeiro dia. Segundo o moderador, o desenvolvimento do índice de produção em volume (metros cúbicos) do eucalipto no Brasil foi muito maior que em outros países da América do Sul. O pinus no Brasil cresceu, porém Chile Uruguai e Argentina também alcançaram bons índices. Fabra lembrou das oportunidades e riscos de mercado. Mostrou uma leve tendência de queda na produção de madeira serrada de pinus no Brasil, Estados Unidos, Chile, Nova Zelândia e Uruguai até 2030.
O sócio-diretor da Hancock Timber, Jason Reynolds apresentou dados focados no Chile e Uruguai. De acordo com a apresentação feita o risco de investimentos no Chile e Uruguai são menores que outros países da América Latina. A Nova Zelândia é o país menos burocrático e com maior facilidade para negócios florestais do mundo. Na América do Sul a Argentina é o mais burocrático. Segundo ele, o Chile tem índices parecidos com os do Brasil para produção de eucalipto para produção de celulose exportada para a China.
O terceiro painelista foi Alberto Voulminot, gerente de portfólio da Global Forest Partners na Colômbia, Guatemala e Uruguai. Coube a ele avaliar os outros países da América Latina. Voulmont fez um comparativo entre as geografias emergentes para investimentos e apresentou highlights das diferentes regiões. Fez uma comparação de interrelação de risco x investimento.
Gestão de pessoas e relacionamento com as comunidades
Para moderar este painel foi convidado o presidente no Paraná da Associação Brasileira de Recursos Humanos, Adeildo Nascimento. O moderador abriu o painel falando sobre gestão de pessoas, inteligência artificial e os avanços da tecnologia. Nascimento apontou para a relação das empresas e dos negócios com as pessoas e a comunidade e o impacto dos negócios na qualidade de vida das pessoas. “O ser humano não pensa como um robô”, lembrou ele.
O primeiro a apresentar no painel foi Edimar de Melo Cardoso, diretor de operações do grupo Aperam Bioenergia. Cardoso explicou que a empresa desenvolveu um conceito de trabalho que segue a risca. “Trabalhamos com a produção de aço verde. Produzimos com carvão vegetal. O que significa um resgate de 2,9 toneladas de CO2 para cada tonelada de gusa produzida. Na nossa empresa isso é um propósito”, garantiu.
O diretor florestal da Veracel, Moacyr Fantini – diretor florestal Veracel fez breve apresentação sobre a empresa e procedimentos de segurança. De acordo com as informações apresentadas, a Veracel conta com de 3.359 funcionários. Em 2012 foram registrados 62 acidentes de trabalho, número que baixo para zero em 2018.
A CEO da Amata, Ana Bastos, explicou que a empresa nasceu com a proposta de manter a floresta em pé. “Começamos com manejo em Rondônia. Saímos de uma operação de manejo e estamos para trazer tecnologia de ponta, que ainda não tem produção em escala no Brasil.”
Processos, tecnologia e competitividade
O diretor florestal da Eldorado Brasil Celulose, Germano Vieira, moderou o painel Processos, tecnologia e competividade. Vieira abriu o painel falando sobre o Mato Grosso do Sul e o manejo florestal preditivo. Deu exemplos da relação entre nível de mecanização e mão-de-obra. De acordo com o diretor florestal da Eldorado, um plantio para produção de 50 mil hectares/ano tem viabilidade para implementar um alto nível de mecanização.
Heuzer Guimarães, diretor de negócios florestais da WestRock participou do painel. Heuzer iniciou destacando a importância do setor se reunir e debater as demandas em comum: “Vamos precisar de eventos como esse pois o momento de crescimento e desenvolvimento do setor exige.”
Dando sequência ao painel, o diretor florestal da Stora Enso Brasil, João Borges, falou brevemente sobre a empresa e apontou para uma curiosidade: “Uma característica nos países nórdicos é que as famílias são proprietárias das florestas.” Segundo Borges, essa peculiaridade gera um engajamento muito maior das comunidades com o setor florestal. Também deu exemplos de ferramentas e sistemas para desenvolvimento e inovação, em processo pela Stora Enso. “No Brasil, em geral, as áreas são grandes e concentradas. Na Europa são áreas menores.
Fabrício Amaral Poloni, gerente de operações florestais da ArcellorMittal BioFlorestas deu um panorama da maior produtora de aço do mundo e seu consumo de carvão vegetal. São 12 milhões de toneladas/ano de aço produzidas no Brasil. Segundo ele, duas plantas no Brasil são atendidas com carvão vegetal. Para abastecer três alto fornos são utilizadas 410 Kton/ano de carvão vegetal. Para isso a empresa tem sete unidades de produção de madeira própria.
Planejamento estratégico do setor florestal e comunicação
O último painel do HDOM Summit: Planejamento estratégico do setor florestal e comunicação foi moderador por Valmir Calori, gerente florestal da Klabin. Calori iniciou apontando algumas complexidades do tema. Segundo ele a velocidade dos processos, cada vez maior, influencia diretamente no modo de fazer. O gerente florestal da Klabin também apresentou conceitos da Indústria 4.0 e lembrou da sustentabilidade e dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável elencados pela ONU.
O diretor executivo florestal da Suzano, Alexandre Chueri defendeu que quanto mais desorganizado é o país mais depreciado é o câmbio, por isso apontou para a necessidade de uma solidez política e administrativa na esfera pública.
Outro ponto levantado por Chueri foi em relação ao plástico. Segundo ele é uma boa oportunidade para o setor florestal: “É cada vez maior a briga contra o plástico. Canudos e copos de plástico vão perder espaço para produtos de papel.”
O superintendente da ABIMCI, Paulo Pupo também participou do painel e trouxe números para o debate. De acordo com levantamento da ABIMCI, existem 104.642 empresas regularizadas no setor florestal brasileiro e outras 95.571 trabalhando com madeira sólida.
Pupo também falou do mercado interno de madeira processada mecanicamente. Segundo ele, os principais nichos são, nesta ordem: a construção civil, móveis e embalagens. Por último, o superintendente da ABIMCI defendeu que o segmento habitacional tem enorme potencial no Brasil, com casas construídas em Wood Frame.
Representando a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), Carlos Alberto Guerreiro, o coordenador do conselho de diretores fiscais falou sobre as últimas mudanças na entidade, como a nomeação de Paulo Hartung para a presidência. Guerreiro defendeu que os indicadores sociais, ambientais e econômicos são excelentes ferramentas para valorização do setor. Também falou sobre a importância da comunicação com a sociedade e em relações governamentais. Deu como exemplo uma série de vídeos, produzidos pela Ibá, que mostram a importância e os resultados positivos do uso de madeira de florestas plantadas.
A esfera pública esteve representada no HDOM Summit pelo diretor geral do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) Valdir Colatto e pelo coordenador-geral de Apoio à Comercialização da Agricultura Familiar, do Ministério da Agricultura, João Antônio Fagundes Salomão.
Valdir Colatto lembrou das demandas do órgão como a conclusão do CAR e do inventario florestal. Também apontou para as adequações e novas definições deste governo. O diretor geral do SFB foi enfático ao chamar o setor para contribuir: “Quem vai dizer quais são as diretrizes estratégicas do SFB é o setor florestal. O Brasil é um país florestal.” Colatto disse que a missão do SFB é promover o uso econômico e manejo sustentável das florestas brasileiras para integrar o desenvolvimento de base florestal na agenda econômica e estratégica do país. “Queremos acabar com o conflito que diz que área de produção não é área de preservação e acabar com a ilegalidade da madeira.”
João Antônio Fagundes Salomão, lembrou que vários gargalos apresentados durante o HDOM Summit estão previstos no Plano Nacional de Florestas Plantadas e que o documento é um compromisso do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Para o horizonte de 2030, a visão é de que o setor possa ser reconhecido nacionalmente como de grande importância econômica, social e ambiental, que tenha estabilidade jurídica e os investimentos tenham o menor risco possível. “A vinda do setor florestal para o Mapa é uma oportunidade única. Temos que aproveitar. Busquem a Câmara Setorial de Florestas Plantadas, ela será a representante do setor no Ministério da Agricultura”, concluiu o representante do Ministério.
Por Paulo Ucelli – Ponto Inicial Comunicação
Imagens: Madeira Total