Mercado de madeira e silvicultura: qual a interação?

Por Manoel Francisco Moreira

A silvicultura é matematicamente (f)m, – função do mercado. Dessa forma, o reflorestamento aumenta ou diminui conforme se comporta o mercado de madeira, a lei da oferta e demanda no curto, médio e longo prazo. É claro que existem muitas variáveis e influências indiretas que concorrem para o aumento ou diminuição da área plantada. Uma delas é o preço da terra que pode inviabilizar a necessidade de reflorestamento em determinada área, ainda que o mercado indique que precisa reflorestar. O fato é que as interações mercadológicas são complexas e, por isso, vamos analisá-las como se apresentam, até porque estamos passando por um período turbulento de incertezas políticas e econômicas.

A SILVICULTURA EM 2022
A situação neste ano mostra a seguinte área nos cinco maiores estados plantadores de árvores:

Minas Gerais 2.306 mil ha
São Paulo 1.264 mil ha
Paraná 1.177 mil ha
Mato Grosso do Sul 1.073 mil ha
Santa Catarina 1.032 mil ha

 

Foi um ano de ouro para o mercado de madeira, pois em função da epidemia mundial da COVID-19, importadores procuraram estocagem, temendo um desabastecimento. Como explicou Mauro Murara Jr., diretor executivo da ACR, “se fosse possível, toda a área reflorestada de Pinus de Santa Catarina, teria sido consumida”. Findada a pandemia, as coisas começaram a voltar ao seu lugar e a madeira estancou, obviamente, pois, quem estocou agora busca “colocar a casa em dia” e o reflexo dessas ações atingiu a silvicultura no ano de 2023.

Queremos ligar fortemente o crescimento da silvicultura com o mercado, mas não é bem assim em todos os estados: no Rio Grande do Sul, por exemplo, enfrenta-se a feroz resistência dos “verdes” que se valem de todos os expedientes possíveis para deter o avanço da silvicultura por lá. O estado poderia facilmente figurar no ranking dos cinco acima, porém não consegue, ainda que, um grupo de abnegados silvicultores e empresas lutem ferrenhamente pela silvicultura. Apesar de tudo, o Rio Grande do Sul tem hoje área de 962.000 hectares plantados entre Acácia Negra, Pinus e Eucalyptus. O que revela que aquele estado não vem crescendo sua área como poderia.

O estado do Paraná teve em 2023 um crescimento pequeno da área plantada com florestas, graças as grandes corporações, como por exemplo, a Klabin. Pequenos nichos, como no Noroeste, têm experimentado algum crescimento devido à demanda por madeira para energia, mais especificamente, para secagem de grãos.

Já São Paulo e Mato Grosso do Sul, vivem o fenômeno das grandes corporações celulósico papeleiras. São Paulo com menor possibilidade de expansão devido ao preço das terras e o Mato Grosso do Sul está despontando.

A SILVICULTURA EM 2023
A nossa pobreza em estatísticas é notória. Estamos no nono mês de 2024 e ainda não sabemos, oficialmente, quanto foi plantado no ano anterior. Mas, estivemos colhendo “percepções” nos estados mais evidentes. Por exemplo, em São Paulo a silvicultura cresce graças a expansão de grandes corporações celulósico papeleiras, além de consumidores de biomassa para energia em suas diversas áreas, mesmo com a dificuldade do custo da terra no estado. Já no Mato Grosso do Sul, a silvicultura “nada de braçada” também graças ao crescimento do investimento das grandes corporações do setor de celulose e papel. Em Santa Catarina e no Paraná, a silvicultura em 2023 teve crescimento pífio, ainda que a Klabin, por sua vez, tenha realizado recorde de plantio. A razão está na baixa demanda do mercado por madeira em geral. No Rio Grande do Sul, permanece a mesma área devido ao mercado madeireiro também estar em compasso de espera. Apenas nas Missões, há algum movimento de aumento devido a demanda por madeira para energia.

Já em Minas Gerais o ano foi sui generis. O carvão, carro chefe do consumo de madeira de florestas plantadas, esteve em baixa por motivos que não vêm ao caso, porém a madeira foi “atacada” pela demanda das fábricas de celulose de fora do estado: São Paulo, Espírito Santo e Bahia. Assim, esperava-se crescimento da área plantada, o que, todavia, não deve ter ocorrido (aguarda-se a apuração dos números oficiais) devido a estiagem na região, que frustrou os plantios feitos e adiou outros.

MERCADO

Mas o mercado de madeira em pé, o que tem a ver com tudo isso? O mercado de madeira em pé é o responsável mais evidente pelo crescimento do plantio. Nenhuma novidade quanto a velha lei da oferta e da procura. A madeira experimentou bons preços para os produtores durante a pandemia, mas agora amarga retração pelos motivos já apontados. Exceção se dá nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul devido, como vimos, à agressividade das corporações celulósicas. Isso tem refletido também no arrendamento de terras para reflorestamento. A frustração do preço da soja não causou baixa significativa no preço da terra, como seria esperado.

Como resultado da demanda, no Paraná, o preço da madeira é variável entre regiões, o mesmo está acontecendo em Santa Catarina, enquanto que o Rio Grande do Sul, mantém-se estável para seus padrões, estado onde a madeira tem o menor valor.

Dando números à conversa, fornecemos uma média cujo valor estatístico é de ruim para péssimo, mas que serve apenas para medir uma certa tendência de mercado:

VALOR EM R$/M³ PARA MADEIRA EM PÉ DE EUCALIPTO

Rio Grande do Sul 70,00
Santa Catarina 90,00
Paraná 110,00
São Paulo 170,00
Mato Grosso do Sul 120,00
Minas Gerais

Preço médio por estado, com base em pesquisa realizada pelo consultor.

Vale ressaltar que é fundamental aguardar os acontecimentos até o fim do ano, embora os dados não sejam tão precisos quanto se deseja.

 

Imagens: Madeira Total

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Chico Moreira

Consultor e engenheiro florestal.

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Mario Coso

Engenheiro Florestal e Mestre em Administração. Partner na ESG Tech Consulting.