O uso da tecnologia NIRS associado à quimiometria é capaz de identificar espécies florestais muito confundidas no comércio pela similaridade de seus caracteres gerais
Estudo pioneiro de pesquisadores do Laboratório de Produtos Florestais (LPF), vinculado ao Serviço Florestal Brasileiro (SFB/Mapa), e do Laboratório de Automação, Quimiometria e Química Ambiental da Universidade de Brasília (AQQUA /UnB) permite a identificação de faqueado de cinco espécies florestais frequentemente comercializadas como sendo mogno. A tecnologia usada na pesquisa envolve espectroscopia no infravermelho próximo (NIRS) associado à quimiometria.
Ao todo, foram estudados faqueados das espécies florestais mogno (Swetenia macrophylla K), andiroba (Carapa guianensis Aubl.), cedro (Cedrela odorata L.), curupixá (Micropholis venulosa Pierre) e jatobá (Hymenea coubaril L.) Todas elas são similares em caracteres como a cor e a textura.
O processo de laminação pode gerar o faqueado e o laminado. No faqueado, uma tora fixada em forma de bloco ou pranchão é cortada por uma faca industrial que fatia continuamente toda a superfície, retirando lâminas delgadas com espessura variando entre 0,6 a 1,0 mm. Já no laminado, a tora é fixada com garras em um torno laminador ou desenrolador, que gira ao encontro de uma faca industrial, cortando lâminas de espessura entre 1,2 a 4,0 mm. A espessura deste tipo de corte dificulta a identificação por meio dos caracteres anatômicos, método mais utilizado na prática de identificação em campo.
Tanto o faqueado como o laminado são produtos comercializados e amplamente utilizados para diversos fins, principalmente em movelaria. O uso mais comum é como revestimento de produtos moveleiros, fabricados com madeiras menos competitivas comercialmente, por lâminas de espécies com mais atrativos visuais.
Pioneirismo
O artigo “Identificação de faqueado de mogno usando dispositivo portátil de espectroscopia de infravermelho próximo e análise multivariada de dados” foi publicado na edição de fevereiro da Revista da Associação Internacional de Anatomistas de Madeira IAWA Journal (IAWA, da sigla em inglês). A publicação reúne pesquisas dos mais renomados estudiosos com o objetivo de difundir o avanço do conhecimento da anatomia da madeira em todos os seus aspectos.
A pesquisadora do LPF/SFB, Tereza C. M. Pastore, que é uma das autoras do estudo, informa que não há na literatura científica atual um método instrumental destinado a fazer a identificação de laminados que possa ser comparado com o método NIRS.
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“O fato de trabalharmos com um aparelho portátil permite fazer uma análise prévia sobre a identidade da espécie florestal que originou o laminado. Se for necessário, a amostra é enviada ao Laboratório para confirmação. Além disso, a tecnologia NIRS é bastante amigável, dispensando horas e horas de treino dos agentes “ambientais”, afirma Tereza Pastore.
O uso da técnica elimina as dificuldades de identificação anatômica da madeira em forma de lâminas, uma vez que o processo de produção desse artefato acarreta a perda de vários caracteres. A identificação convencional por anatomia da madeira das espécies florestais que deram origem aos produtos recobertos por laminados e faqueados é um processo que exige muita experiência e pode ficar restrita apenas à identificação ao nível de gênero. Nos laminados em geral, a superfície transversal é muito fina. Dessa forma, dependendo das características anatômicas da madeira e, especialmente, das dimensões das células não é possível realizar essa identificação. Normalmente, uma das três direções usadas para observar os caracteres da madeira é quase totalmente eliminada.
Identificação de origem
Outro aspecto importante que a pesquisadora ressaltou é o fato da madeira estar em forma de laminado industrializado não a isenta de ser de origem legal ou ilegal. A razão é que os laminados originados de madeira ilegal também são considerados de origem ilegal. Um exemplo prático do estudo é a espécie utilizada no estudo: mogno. Essa madeira está na lista oficial das espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção. De acordo com a Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES, da sigla em inglês), os organismos internacionais de proteção proíbem ou restringem a sua comercialização pelo mundo, a não ser que seja proveniente de exploração autorizada por organismos ambientais locais do país como o IBAMA.
Assim, por meio da tecnologia, as lâminas apreendidas sem a respectiva documentação legal de extração podem ser facilmente identificadas quanto ao gênero e espécie. O estudo mostra resultados extremamente promissores por representar uma metodologia alternativa ao método convencional para a identificação de produtos de madeira amplamente comercializados, internamente no Brasil como externamente.
O Laboratório de Produtos Florestais é um departamento do Serviço Florestal Brasileiro que atua na área de tecnologia de madeira e outros produtos florestais, gerando, difundindo e transferindo conhecimento para contribuir com o desenvolvimento sustentável no setor florestal.
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Por Serviço Florestal Brasileiro
Imagem: Divulgação
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