Nesta sexta, 17 de abril, comemora-se o Dia Nacional da Botânica, um dos campos mais ricos das Ciências Biológicas e de importância estratégica para o Brasil, em razão da sua grande biodiversidade vegetal. Mas o que exatamente faz um botânico? Qual é a sua formação?
Quem responde essas perguntas é o professor do Departamento de Botânica da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), Paulo Henrique Labiak Evangelista. “O botânico é quem se dedica ao estudo das plantas, em seus vários aspectos. Em geral, é um profissional formado em Biologia ou áreas correlatas como Agronomia e Engenharia Florestal, e que se especializou por meio de mestrado ou doutorado. A Botânica inclui diversos aspectos do conhecimento científico, passando desde a descrição da diversidade vegetal, evolução das plantas, ecologia e interações com outros organismos, até mesmo o uso das plantas para consumo humano, seja na forma de alimento ou como fonte primordial de medicamentos e outros produtos químicos – como a indústria de cosméticos.”
Os botânicos são, acima de tudo, exploradores. Foram eles os responsáveis, ao longo da história, por levarem espécies de plantas descobertas num continente para outro, moldando a maneira como hoje o ser humano se alimenta, por exemplo. Um dos casos mais famosos é o da batata-inglesa – que de inglesa não tem nada, aliás. A planta da batata é uma espécie nativa da região dos Andes, na América do Sul, mas no século XVI foi levada para a Europa por navegadores, que viram nela uma forma prática e barata de alimentar a população do Velho Continente.
E foi graças a essa dinâmica que outros alimentos, como o cacau, o café, a cana-de-açúcar, o milho e tantos outros deixaram de ser restritos a uma localidade para estar nas mesas e nos pratos do mundo todo. “Os botânicos, os naturalistas, levavam essas espécies em terrários e as estudavam mais a fundo ao chegar em seus países”, explica Labiak.
Até hoje, aliás, é esse o método de trabalho de um botânico que atua com pesquisa e descoberta de espécies. Labiak, por exemplo, trabalha com taxonomia vegetal, ou seja, com a descrição e classificação das plantas. “Eu vou a campo e passo de duas a três semanas coletando espécies. No local mesmo, já se inicia o processamento e a preservação do material coletado, descrevendo o maior número possível de informações, como cheiro, cor, textura, se a planta crescia na rocha ou na várzea, se havia algum animal polinizando e por aí vai”, detalha.
Todas essas informações, junto com a planta preservada, vão para o herbário, que é uma coleção biológica de plantas secas. É uma das atividades primordiais do botânico cuidar desse catálogo, pois ele serve como registro da biodiversidade de uma determinada área, além de ser fonte para pesquisas posteriores que poderão ser feitas sobre a planta ou sobre a região em que ela foi registrada.
Atualmente, a maior parte dos herbários está disponível online, o que possibilita que qualquer pessoa possa buscar informações e dados sobre uma determinada espécie e, com uma boa ideia na cabeça, desenvolver trabalhos botânicos sem sair de casa. “Mas é óbvio que a atividade de campo é muito importante, porque há muitas regiões onde ninguém nunca pisou. Hoje, no Brasil, a Amazônia é a grande fronteira do conhecimento. Sabe-se muito pouco ainda sobre a diversidade da região e por isso o trabalho do botânico é tão importante”, pontua Labiak, que também é pesquisador honorário do Jardim Botânico de Nova York e pesquisador associado do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia.
Depois que as informações são catalogadas, o biólogo identifica a espécie e a classifica dentro de uma família, o que nem sempre é fácil. Embora a Biologia Molecular e a Genética tenham acelerado o conhecimento nas últimas décadas, o trabalho de classificação ainda é demorado e feito junto com especialistas em diferentes grupos de plantas e áreas do conhecimento, como a Ecologia.
Embora o trabalho do botânico pareça teórico, ele tem efeitos muito práticos. “Se eu sei que uma planta produz um certo princípio ativo que serve, por exemplo, no tratamento de alguma doença, eu posso procurar em outras espécies que tenham parentesco evolutivo com aquela primeira para ver se elas também têm esse princípio ativo. E isso só é possível com o trabalho do botânico.”
Atualmente, a atividade vem crescendo na iniciativa privada. Cada vez mais, botânicos são requisitados na elaboração de levantamentos florísticos, relatórios de risco ambiental para grandes empresas e identificando áreas que precisam de manejo específico antes do início de grandes obras ou áreas que necessitam de planos de recuperação ambiental.
Mas, seja qual for a área de atuação do botânico, um dos grandes sonhos do profissional da área é descobrir uma espécie. “É algo que todo botânico quer, porque é uma descoberta. E descobertas são sempre legais”, diz o cientista da RECN.
Sobre a Rede de Especialistas
A Rede de Especialistas em Conservação da Natureza reúne cerca de 80 profissionais de todas as regiões do Brasil e alguns do exterior que trazem ao trabalho que desenvolvem a importância da conservação da natureza e da proteção da biodiversidade. São juristas, urbanistas, biólogos, engenheiros, ambientalistas, cientistas, professores universitários – de referência nacional e internacional – que se voluntariaram para serem porta-vozes da natureza, dando entrevistas, trazendo novas perspectivas, gerando conteúdo e enriquecendo informações de reportagens das mais diversas editorias. Criada em 2014, a Rede é uma iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Os pronunciamentos e artigos dos membros da Rede refletem exclusivamente a opinião dos respectivos autores.
Por Renato Santana
Imagem: Teksomolika