
Produtores rurais e empresas estão mais otimistas sobre o retorno de aportes para ganho de produtividade nas fazendas. O processo já começou e tende a seguir até 2018
A safra recorde e a remuneração positiva para diversas commodities estão devolvendo confiança ao agronegócio. Aos poucos, o setor ensaia uma retomada dos investimentos nas lavouras, que começa com máquinas e deve se estender para a infraestrutura.
O agricultor Vilmo Orlando, de Montividiu (GO), planeja dobrar a capacidade de armazenagem na fazenda. Em cidades vizinhas, o DCI encontrou ainda projetos de irrigação amparados pelo aquífero Guarani (reserva de água doce). São sinais de um processo iniciado neste ano, que deve ganhar consistência no segundo semestre e se consolidar em 2018.
A tomada de recursos para investimentos pelo Plano Safra 2016/17 cresceu 3,5% entre julho e janeiro em relação ao mesmo período do ciclo anterior, para R$ 14,9 bilhões, de acordo com o Ministério da Agricultura. A alta foi puxada por contratos da linha Moderfrota – voltados para compra de máquinas e equipamentos -, sendo que as regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste lideram os empréstimos.
“Pode haver uma retomada nos aportes em máquinas, mesmo que ainda tímida. O produtor está colocando a casa em ordem depois da última quebra de safra”, disse o agricultor de Jataí (GO), Antônio Gazarini, em visita do DCI durante o Rally da Safra, promovido pela Agroconsult.
Em janeiro, as vendas de maquinário agrícola e rodoviário saltaram 74,9% sobre um ano antes, para 2,8 mil unidades, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Já a produção avançou 82,2%, no mesmo período.
A oferta de crédito para aquisições neste segmento de bens duráveis é mais ampla se comparada ao volume direcionado, por exemplo, para equipamentos de armazenagem e irrigação. No caso das máquinas, os aportes estão atrelados à necessidade de renovação.
Infraestrutura
“Temos dois silos para 45 mil sacas cada e outros dois que comportam 10 mil sacas. Queremos expandir e a única dificuldade é conseguir crédito”, conta Vilmo Orlando, que produz soja transgênica e convencional, além de milho tradicional e para pipoca.
O superintendente comercial da Kepler Weber, João Tadeu Vino, confirma que o processo de concessão de crédito é o grande gargalo no segmento de armazenagem. O executivo, que também ocupa a vice-presidência da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), explica que a cadeia é muito dependente de financiamentos e o agricultor só busca quando as condições são atrativas.
Apesar disso, sem revelar valores, Vino destaca que desde o ano passado a empresa já sente o retorno dos ânimos do mercado refletido em vendas melhores. Para 2017, a meta da companhia é crescer 10%, após dois anos amargos em volume de comercialização. “Estamos mais otimistas que outras empresas”, admite.
Por trabalhar com pedidos de longo prazo e instalações mais complexas, o segmento de armazenagem demorou mais para sentir a recessão. Da mesma forma, levará um tempo adicional para se levantar. É esperado o início da recuperação neste ano e retorno à normalidade em meados de 2018.
Diferentemente, em outra ponta de infraestrutura, a agricultura irrigada sobreviveu às intempéries do ano passado e, segundo o presidente da Câmara Setorial de Equipamentos de Irrigação (CSEI), Marcos Henrique Tessler, avançou na casa dos 10% a 15%, em média. “A tendência que vemos para 2017 é que vamos continuar crescendo nessa linha”, projeta. O executivo integra a multinacional israelense de irrigação por gotejamento Netafim.
Uma variável imprescindível para a sustentação deste setor é o fato de estar ligado diretamente a ganho de produtividade. O secretário municipal de Jataí (GO), Silomar Cabral Faria, conta que o rendimento médio do milho na região é de R$ 2.750 por hectare, considerando o valor de R$ 25 por saca na safrinha e 110 sacas por hectare. Com a tecnologia de irrigação por pivô central, ele calcula que o faturamento pode saltar para até R$ 4 mil por hectare, proveniente do resultado de 160 sacas por hectare.
“Na cidade de Unaí (GO) temos casos de produtores que já chegaram a R$ 3 mil por hectare irrigado”, comenta o agricultor Antônio Gazarini.
Diante de um benefício tão evidente, é comum encontrar produtores goianos que estão com projetos de outorga de água em andamento e é neste ponto que mora o problema. O processo é moroso e ainda pode esbarrar na falta de energia elétrica suficiente.
“À medida que a agricultura irrigada vai crescendo, a demanda por água cresce. A dificuldade de obtenção da água tende a aumentar na mesma proporção”, afirma Tessler. Na questão da energia, alguns projetos custam muito para levar o insumo até a fazenda. “Vale lembrar que as realidades regionais também são distintas, há otimismo no Centro-Oeste e seca no Nordeste”.
Fonte: DCI
Foto: Madeira Total