
Ele afirmou em evento que tem recebido críticas de que a autoridade monetária estaria buscando o centro da meta de inflação, de 4,5%, com ‘muito afinco’.
Mas, para Goldfajn, a questão é “como chegar lá”. A taxa básica de juros (Selic) é o principal instrumento do BC para tentar conter pressões inflacionárias. Pelo sistema de metas de inflação brasileiro, a instituição tem de calibrar os juros para atingir objetivos pré-determinados. Taxas mais altas tendem a reduzir o consumo e o crédito, o que pode contribuir para o controle dos preços. Quando julga que a inflação está compatível com as metas preestabelecidas, o BC pode baixar os juros.
“Todos nós queremos juros mais baixos. Esse também é o desejo do Banco Central. A questão é como chegar lá.”
“Para isso, é importante que a redução dos juros seja feita de forma responsável, para que seja sustentável no longo prazo. Caso contrário, a trajetória terá que ser revertida lá na frente”, declarou durante o evento, em discurso divulgado pela assessoria do BC.
O Banco Central tem recebido críticas por não ter acelerado, em sua última reunião, o processo de corte dos juros básicos da economia em meio à forte recessão que se abate sobre a economia brasileira. A instituição manteve o ritmo e baixou a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 13,75% ao ano, na segunda redução seguida – mesmo sabendo da contração de 0,8% no Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre deste ano, no sétimo trimestre consecutivo de tombo da economia. Depois, em novembro, os números mostraram forte queda da inflação – para 0,18% – a menor para o mês desde 1998.
Comitê do Banco Central reduz taxa básica de juros para 13,75% ao ano
“Recentemente, alguns têm afirmado, em tom de crítica, que estaríamos buscando o centro da meta com muito afinco. Nós realmente consideramos importante atingir as metas de inflação fixadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), após anos seguidos com a inflação acima do centro ou mesmo do teto da meta. Afinal de contas, postergar seu atingimento tem custos para a sociedade”, declarou.
“Enfatizo, todavia, que nós não esquecemos nem desprezamos o custo da desinflação. O Banco Central é sensível ao nível de atividade. Permanecemos atentos ao ritmo da atividade econômica e levamos em consideração essa informação em nosso processo decisório”, acrescentou o presidente do Banco Central.
Segundo ele, a queda na atividade econômica é vista como um “custo da desinflação” e é levada em consideração nas decisões de política econômica.
“Essa ponderação é, inclusive, um princípio: a ‘flexibilidade’ nos regimes de metas para inflação. E esse princípio também se aplica ao regime brasileiro. Em poucas palavras, essa flexibilidade permite que, em ambiente com expectativas de inflação ancoradas, os custos de desinflação sejam levados em conta nas decisões de política monetária [sobre a taxa de juros]”, declarou.
Ilan Goldfajn, chefe do Banco Central, também disse que um processo desinflacionário mais rápido, com vistas a atingir o centro da meta já em 2016, por exemplo, traria um custo de desinflação muito alto em termos de atividade econômica. “É importante enfatizar que esse princípio requer expectativas ancoradas. O mesmo se aplica à resposta desejável da política monetária a choques que produzem realinhamento de preços relativos”, acrescentou.
Ele afirmou que nos últimos meses foi importante “ancorar” as expectativas de inflação [para os próximos anos em relação às metas preestabelecidas, de 4,5% em 2017 e 2018] e “derrubar a inflação”.
“Esse foi um investimento muito importante e não pode ser perdido. São esses resultados que permitem ter juros mais baixos no futuro. Todos nós queremos juros mais baixos. Esse também é o desejo do Banco Central. A questão é como chegar lá”, acrescentou Goldfajn.
O Banco Central tem sinalizado que pode intensificar o processo de corte dos juros básicos da economia na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para 10 e 11 de janeiro, e os economistas do mercado financeiro já projetam uma redução maior da taxa Selic.
A aposta é de que será implementado um corte de 0,50 ponto percentual nos juros básicos, para 13,25% ao ano, e que a taxa continuará recuando ao longo de 2017 – terminando o próximo ano em 10,50% ao ano.
Fonte: Alexandro Martello, G1, Brasília