Aumento na conta de luz e impactos ambientais reforçam a necessidade de novas fontes de eletricidade; o sol é uma das principais apostas, mesmo nos dias nublados da capital
Sair de casa, olhar para o alto e se deparar com um céu totalmente nublado: uma cena comum em Curitiba e região. Com um clima desses, alguns podem questionar se realmente é possível usar a energia do sol por aqui. A resposta é “sim” – até no inverno.
O assunto, aliás, ganha ainda mais relevância nesta época do ano. Em maio, por conta de chuvas menos frequentes onde ficam os reservatórios das usinas hidrelétricas, o Governo Federal adotou, mais uma vez, a bandeira amarela na tarifa e deixou a conta de luz mais cara. Já no caso da “energia solar curitibana”, apesar de as nuvens sugerirem o contrário, se existe qualquer claridade, é porque há luz; e se há luz, a radiação solar está presente; e se há radiação solar, então é possível gerar eletricidade.
“E temos que olhar não só a radiação de um determinado dia, mas uma média ao longo do ano. Consegue-se gerar em Curitiba e qualquer lugar do Paraná com valores significativos, maiores do que em muitos países europeus”, explica o Engenheiro Industrial Elétrico Gerson Máximo Tiepolo, especialista no assunto e conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR).
Tiepolo salienta que, no Brasil, o modelo mais utilizado não possibilita acumular energia. O arranjo é basicamente formado por placas fotovoltaicas, que convertem a radiação solar em eletricidade, abastecendo equipamentos eletroeletrônicos em todos os cômodos da casa. O sistema é interligado à rede de distribuição local. Caso o consumo seja maior do que a geração doméstica, a energia que falta vem da rede da Copel (no caso do Paraná). Já se a geração for maior do que o consumo, o excedente é injetado na rede local e o consumidor ainda ganha créditos para usar nos meses seguintes.
E para ter em casa?
O Engenheiro Eletricista Sérgio Inácio Gomes, conselheiro do Crea-PR, explica que os sistemas fotovoltaicos podem ser uma boa alternativa para economizar na conta de luz, mas, antes, é preciso ter tudo na ponta do lápis. Segundo ele, cada consumidor pertence a uma categoria tarifária, que impacta na quantia paga pelo quilowatt/hora, de acordo com as classes. “Tem que saber interpretar a conta”, pontua. “Vários fatores são colocados na análise para se chegar à conclusão do payback, que é o tempo estimado para a compensação do retorno do investimento. Por isso, é importante ter um Engenheiro Eletricista como responsável técnico.”
Sobre o valor do investimento, Gomes frisa que existem muitas variáveis, como a superfície disponível no telhado para se instalar os painéis, o consumo de eletricidade e as características climáticas da região, mas estima que a instalação residencial saia, em média, por R$ 15 mil. “O projeto tem que ser compatível com o consumo. É um investimento que se paga de seis a oito anos, é interessante fazer um planejamento”, afirma.
Sustentável
Além de economia, encarar o sol como fonte de eletricidade é uma questão de sobrevivência energética. O aumento no preço da gasolina e do diesel, e o próprio uso destes combustíveis fósseis no transporte e em usinas termelétricas, cuja influência nas mudanças climáticas vem sendo estudada à exaustão pela ciência, têm despertado o interesse por formas limpas de se gerar energia. As transformações que o planeta experimenta, inclusive, têm interferido no regime de chuvas e na disponibilidade de água para suprir a demanda em hidrelétricas, principal matriz enérgica do Brasil.
“A complementação por fontes renováveis, como eólica e solar, é imprescindível. Hoje, temos em torno de 60% da matriz de energia vinda das hidrelétricas. Mas um dos problemas é que os grandes potenciais para a instalação de novas usinas já foram usados. O que ainda existe está no Norte e estamos falando de impactos ambientais”, ressalta Tiepolo.
O conselheiro do Crea-PR frisa que a diversificação da matriz passa, necessariamente, por incentivos governamentais, como linhas de financiamento, descontos no IPTU e remuneração pela energia excedente: “a microgeração é extremamente benéfica, para que as perdas sejam menores, pois se está gerando e consumindo no mesmo local”.
Um exemplo de uso energético 100% sustentável foi um projeto da Copel, que, neste verão, levou ao litoral do Paraná um contêiner para atender turistas. Equipada exclusivamente com painéis solares, a instalação foi capaz de abastecer bicicletas e patinetes elétricos, terminais de carregamento de celulares, além de ter sido autossuficiente no consumo de eletricidade e devolvido parte da energia gerada à rede da Copel.
Sérgio Inácio Gomes destaca que o mercado dos painéis solares está em expansão e aparece, portanto, como um destino promissor para futuros profissionais. “É uma demanda presente e futura, que está crescendo e vai crescer ainda mais. Não só no Brasil, mas em todo o mundo”, acrescenta.
Mais informações
De acordo com o “Atlas de Energia Solar do Estado do Paraná”, o potencial médio do Estado em relação à energia solar é 2,2% superior ao registrado na Itália e fica 43% acima do que a média na Alemanha. Já a média obtida em Curitiba é superior a 24 de 33 países europeus analisados, variando entre +2,46% (Croácia) a +69,47% (Islândia). O atlas é uma parceria entre a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e a Itaipu. Os detalhes estão no site: http://www.atlassolarparana.com
Com uma câmara especializada em Engenharia Elétrica, o Crea-PR tem profissionais qualificados e publicações que abordam em detalhes o tema, como o Caderno Técnico “Eficiência Energética”. Os especialistas do Crea-PR estão à disposição para entrevistas.
Crea-PR
O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR), autarquia que este ano comemora 85 anos, é responsável pela regulamentação e fiscalização da atuação de profissionais e empresas das áreas da Engenharias, Agronomias e Geociências. Além de regulamentar e fiscalizar, o Crea-PR também promove ações de atualização e valorização profissional por meio de termos de fomentos disponibilizados via Editais de Chamamento.
Por Flávio Bernardes
Imagem: Jcomp