Por Marcelo Tertuliano*
Poucos temas são tão polêmicos quanto as férias para altos executivos. Aquela imagem do profissional que jamais relaxa, que não consegue desfrutar de nem sequer um minuto de tranquilidade ao lado dos amigos e da família já virou até filmes – comédias ou tragicomédias, é claro – e coachs, psicólogos, médicos, entre outros inúmeros profissionais, sempre vêm a público para enfatizar a importância de todas as pessoas terem períodos de descanso em suas vidas profissionais.
A questão é tão valorizada que é possível identificar perfis bem distintos que os executivos assumem em relação às férias. Existe, por exemplo, o perfil dos que jamais descansam. Esses são os que nunca tiram férias, trabalham também nos feriados e até nos finais de semana. Seus liderados costumam reclamar dessa postura, afinal, ninguém atua sozinho e essa atitude exige que a equipe esteja de prontidão o tempo todo – ou seja, além de não descansar nunca, esse líder atrapalha muitas férias, feriados e finais de semanas de outras pessoas. Há, ainda, o executivo que trabalha arduamente, mas, que desaparece nas férias. Simplesmente, desliga o celular e não lê e-mails e, com isso, coloca a equipe em pânico, já que várias ações dependem de suas decisões e, com essa ausência total, o trabalho para. E, atualmente, existem os executivos que, de maneira mais preparada, conseguem descansar pontualmente, de forma planejada – e é justamente a maneira que eu vejo como a mais apropriada para o líder atual.
Primeiramente, como líder, percebi que, nas empresas pelas quais passei, em ramos diferentes, sempre havia momentos cruciais de cada projeto, nos quais era impossível tirar férias ou mesmo me ausentar nas emendas de feriado. Nestes momentos, nada mais me restava fazer, além de me dedicar totalmente ao trabalho. Porém, também havia momentos mais tranquilos, nos quais eu podia estender esses feriados e até finais de semana, dedicando à minha família um pouco mais de atenção – porque, apesar de, na empresa, eu ser o líder, o executivo máximo, em casa eu sou apenas o papai e o esposo, e minha família me enxerga de maneira completamente diferente. Também é nesses momentos de maior calmaria que programo minhas férias, sempre mais curtas e nas quais mantenho algum contato com a empresa, realizando até, se preciso, reuniões à distância, porque a tecnologia atual nos permite estar presentes, mesmo que distantes.
Agindo desta maneira, percebo o quanto é necessário descansar. É na ausência física do líder que se percebe como está o preparo da equipe, como todos trabalham sem sua presença. Também é nesses momentos que ocorrem muitos insights, que podem promover mudanças ou ações positivas no futuro. Eu, por exemplo, tenho insights nos momentos mais improváveis, nunca tiro momentos de reflexão para que os insights aconteçam, eles vêm nas horas mais improváveis ou motivados por gatilhos. E é justamente quando estou mais relaxado, sem pensar no trabalho, que as boas ideias aparecem. Isso já aconteceu várias vezes!
Sem dúvida, é possível conciliar momentos de descanso com o ritmo intenso de trabalho, mesmo quando se ocupa um cargo de liderança. Eu só entendi a importância das férias quando estava de férias e, quando volto ao trabalho após o período de descanso, sinto-me mais engajado, com energia renovada, para acelerar meus projetos e apoiar minha equipe. E acredito que cada um, encontrando seu ponto de equilíbrio, pode se beneficiar de momentos de lazer também em benefício do próprio trabalho.
*Marcelo Tertuliano é Administrador de Empresas, com 22 anos de experiência na função financeira, dos quais, 15 anos em posição gerencial. Atualmente lidera a área financeira de uma grande mineradora em Moçambique. É um estudioso do comportamento empresarial mundial.
Por Em Pauta Comunicação
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