*POR MARCIO FUNCHAl
A escolha das melhores alternativas para o abastecimento das indústrias de base florestal é essencial para garantir a sustentabilidade do fluxo de consumo de madeira na fábrica, além de propiciar ótima relação custo versus benefício na operação. Dentre as empresas do setor de base florestal, as maiores áreas de florestas plantadas pertencem ao segmento de celulose e papel.
Com projetos industriais cada vez maiores, essas empresas têm realizado grandes movimentos de expansão da base florestal própria em várias partes do Brasil, com o intuito de garantir o abastecimento das plantas e suas expansões em médio e longo prazos. Diversos fatores têm impulsionado o emprego de diferentes alternativas para o abastecimento de madeira. Entre eles os aspectos econômico, legal e estratégico ganham cada vez mais destaque. A Figura em destaque sintetiza as principais alternativas usadas pelas indústrias florestais no Brasil, para o abastecimento de suas plantas industriais. É claro que variantes existem, mas as alternativas mais representativas estão aqui demonstradas.
As características principais de cada uma dessas alternativas estão sintetizadas a seguir:
Alternativas que consideram a Formação de Base Florestal Própria / Dedicada:
1. Floresta própria em terra própria: é a alternativa mais conservadora e tradicional, onde a indústria é dona da terra e, sobre ela, desenvolve seus plantios florestais em ciclos contínuos. A base florestal pode ser adquirida pronta, ou seja, ativo florestal já formado (projeto brownfield), ou ser desenvolvida mediante um novo plantio (projeto greenfield). Na indústria de celulose e papel operante no Brasil, operacionalmente tradicional e conservadora, esta alternativa ainda representa a modalidade mais empregada. A principal vantagem é de garantir integralmente o suprimento de madeira para a fábrica, sem depender das oscilações do mercado. Caso a floresta permita, ainda pode vender o excedente da produção de madeira no mercado local. A principal desvantagem é a exigência de imobilização expressiva de capital na compra das terras;
- Floresta própria em terra de terceiros: também tradicional para a indústria florestal, em especial a de celulose e papel, a formação de florestas em terras de terceiros é uma opção contratual que diminui a necessidade de imobilização de capital em ativos rurais. Os contratos podem ser de curta duração (1 a 3 ciclos de rotação do plantio), ou de longa duração (entre 50 e 100 anos, por exemplo). Os contratos de curto prazo mais comuns são os de Arrendamento, e os de longo prazo são normalmente de Cessão do Direito de Uso de Superfície.
Fonte: CONSUFOR
Assim como o plantio em terras próprias, garante plenamente o abastecimento da indústria sem a interferência das oscilações de mercado;
- Floresta própria com modelo de produção cooperada: nessa alternativa a indústria estabelece contratos de produção de madeira com produtores rurais regionais, integrando-os à sua cadeia de suprimento. Há 3 modalidades disponíveis no mercado. Duas delas já são consagradas no Brasil: o Fomento e a Parceria de Produção em Terra de Terceiros. Nessas modalidades, a floresta é plantada na terra de um proprietário rural da região, com mão de obra do proprietário da terra. O dono da terra vende quase a totalidade da produção para a indústria e, normalmente, tem o direito de vender uma pequena parcela da mesma no mercado regional, se assim quiser. A escolha entre Fomento e Parceria de Produção depende de diversos fatores, como questões técnicas, tipo de produtor (pessoa física ou jurídica), tipos de vinculação da produção florestal do cooperado com a indústria, escala dos negócios e outros aspectos. Além disso, normalmente a indústria cede à tecnologia material genético, insumos e procedimentos técnicos. Uma nova modalidade em destaque no País foi introduzida mais recentemente pela indústria de celulose e papel: Parceira de Produção em Terra Própria. Nela, a indústria cede as suas terras próprias para um produtor florestal especializado (como um Fundo de Investimento ou uma TIMO), que será responsável por implantar e gerenciar a floresta para a indústria. Esse produtor fica obrigado a entregar parte da produção de madeira para a indústria, como forma de remuneração da terra cedida, sendo que o restante da produção poderá ser vendido pela TIMO no mercado regional. • Alternativas que consideram a Compra de Base Florestal de Mercado / Terceiros:
- Compra de madeira no mercado spot: ocorre quando a indústria se abastece com madeira oriunda do mercado regional “spot”, ou seja, compra de madeira em contratos de curtíssima duração (entre 1 e 6 meses, em média). As compras podem ser realizadas com qualquer fornecedor disponível no mercado, de várias escalas e com florestas de diferentes níveis de qualidade, como forma de atingir a demanda industrial existente. Esta alternativa se torna atrativa para os mercados regionais consolidados, com presença de grande quantidade de produtores florestais. O fator mais preocupante é que a indústria tem menor capacidade de controle do seu abastecimento, nos quesitos de qualidade da madeira (já que a diferentes produtores irão produzir madeiras com diferentes características), manutenção da oferta vs demanda (já que outros consumidores regionais também podem adotar simultaneamente a mesma estratégia de compras de mercado) e preços. Em razão disso, normalmente esta alternativa tem sido utilizada como complemento de outras modalidades de abastecimento, no caso específico das indústrias de celulose e papel no Brasil.
- Acordos de suprimento de médio e longo prazos: essa alternativa é muito similar à anterior. As maiores diferenças se dão no volume negociado e no prazo de duração dos contratos. Aqui a indústria assina contratos de abastecimento de médio e longo prazos (entre 1 e 5 anos, no modelo Brasileiro) com grandes produtores florestais (normalmente fundos de investimento especializados na gestão de ativos florestais de grande escala). A principal vantagem desta alternativa é aumentar o horizonte de planejamento, garantindo uma previsibilidade para o preço da madeira ao longo do período do contrato.
- Compra de uma ou mais rotações de floresta em pé: conhecida no mercado como Timber Deed, nessa modalidade a indústria adquire somente a floresta em pé de um maciço florestal, sem aquisição da terra, e com acordo para realizar a colheita por tempo determinado (exemplo, 20 anos). Assim, o timber deed requer obrigatoriamente que exista um ativo florestal já formado e/ou em processo de maturação para exploração. Esta alternativa reduz a necessidade de capital para investimento em terras, mas obriga o desembolso pela compra do estoque da floresta no momento da negociação. Contratualmente se torna uma alternativa mais complexa do que a realização de contratos normais de compra de madeira ou de abastecimento, previstos nas 2 alternativas anteriores.
- Parceria de negócio: Essa modalidade prevê que a indústria seja integralmente abastecida por um produtor florestal independente. Esta parceria é de vínculo permanente, ou seja, os contratos são de longo prazo, com previsão clara para as renovações. Tais alternativas podem considerar a formação de uma joint venture das partes em um empreendimento único, ou a manutenção de 2 empresas interdependentes com resultados distintos, mas com plena sinergia no negócio de “produção de floresta plantada e abastecimento da indústria consumidora”.
Cada uma das alternativas apresenta características distintas. Cada alernativa tem um conjunto de vantagens e desvantagens. Cabe a cada indústria ponderar sua estratégia às opções existentes como forma de manter seu fluxo de abastecimento de madeira.
Importante destacar que, apesar do mercado de base florestal ter um viés conservador, as novas gerações de gestores têm trazido uma visão mais ampla para os negócios do setor. Assim, novas modalidades de abastecimento devem continuar a surgir. É possível que o Brasil vislumbre cada vez projetos industriais com múltiplas estratégias de abastecimento, uma vez que a escala dos novos empreendimentos tende a crescer, juntamente com o custo de capital envolvido e o amadurecimento e profissionalização das empresas do setor. Para as empresas de celulose e papel do Brasil, esse é um mar de oportunidades que convém ser estudado com profundidade.
Por CONSUFOR