O Brasil inicia 2018 com temperatura elevada no segmento de produção de celulose e papel. Todas as grandes empresas do setor estão em plena consolidação de estratégias: houve expansão da capacidade instalada em vários Estados, envolvendo tanto a produção de fibra virgem como de papel, papelão, embalagens e outros produtos correlatos.
Como os investimentos têm ocorrido tanto em termos de fibra branca como na marrom, o segmento mostra ao mercado que há espaço para crescimento da produção industrial no país. Além das expansões já realizadas ou em andamento, o mercado vive duas recentes importantes consolidações estratégicas: a fusão/incorporação de duas grandes companhias do setor, e a compra de outro importante player nacional por um grupo produtor internacional, de capital Oriental.
Estes movimentos empresariais demonstram que o Brasil é um país com oportunidades para expansão, mesmo com toda a relevância de crise política, institucional e econômica pela qual passamos. E o cenário de negócios não para por aí: houve forte expansão nos últimos anos na produção de papéis sanitários e embalagens, tanto em fibra longa como em curta… e há movimentos atuais de negócios nos segmentos de papel e cartão.
Contudo, a pergunta que se faz é: quanto mais o Brasil suporta a expansão da produção de celulose, sem afetar a sua capacidade de abastecimento de madeira a um custo economicamente atrativo?
O mercado internacional indica que a produção mundial de celulose continua a crescer, o que mostra que o Brasil continua a ser alvo potencial de novos investimentos industriais. Analisando o comportamento da produção mundial de celulose, tem-se que o crescimento da produção foi de aproximadamente 115%, no acumulado dos últimos 50 anos: partiu de cerca de 80 milhões de toneladas e hoje representa pouco mais de 170 milhões de toneladas (Figura 1).
Contudo, é importante mencionar que o pico de produção histórica se deu há 10 anos (em torno de 177 milhões de toneladas). Desde então, a produção mundial tem crescido anualmente num incremento anual mais conservador, porém sem ultrapassar a marca histórica.
Comparando agora onde esta produção mundial de celulose ocorreu, tem-se na Figura 2 a caracterização da importância regional para este quesito. Como tradição, a maior parcela da produção de celulose se concentra nos países localizados no Hemisfério Norte. Nos últimos 50 anos, a participação dos países do Hemisfério Sul tem crescido, mas não se pode afirmar que há uma forte migração da produção do Norte para o Sul, como muitos analistas costumam alarmar. A produção no Hemisfério Norte representa hoje mais de 80% da produção mundial de celulose, e novos projetos industriais continuam sendo realizados por lá (tanto em termos de crescimento orgânico como expansões).
Todavia, a participação do Hemisfério Sul tem sido cada vez mais importante, pelo fato de ser possível a instalação de projetos industriais de grande escala, suportados por um abastecimento de fibras oriundos de maciços florestais plantados com crescimento notamente mais produtivos do que os dos bosques naturais ou plantados do Norte, e com relativa disponibilidade de terras para sua implementação. Assim, o crescimento da produção mundial de celulose no Hemisfério Sul foi da ordem de “incríveis” 1.166% nos últimos 50 anos. Já no Hemisfério Norte foi de “apenas” 82%, no mesmo período.
A Figura 3 mostra que o ritmo de crescimento da produção de celulose em cada Hemisfério também foi diferente nestes 50 anos. No Sul, o crescimento foi mais linear, num patamar sustentado de aproximadamente 5,2% ao ano. Já no Norte viu-se um crescimento positivo até 2007 (taxa anual média de 1,8%), que se tornou em uma redução anual dos níveis de produção da ordem de 0,6% a.a., em média, desde então.
Comparando agora os dados de produção mundial de celulose em relação aos Continentes (Figura 4), tem-se uma percepção de alteração mais evidente do comportamento da produção mundial a partir da metade dos anos 90. É nítida a redução acentuada da produção de celulose ocorrida na América do Norte no período. Já na Europa, o crescimento foi muito pequeno, se comportando mais como uma tendência de estabilidade dos níveis de produção desde os anos 90. O crescimento da produção mundial de celulose foi mais importante na América do Sul e na Ásia. O continente Asiático, inclusive, mostra crescimento regular desde a metade dos anos 60.
Em termos de participação de cada continente na produção mundial de celulose, é possível perceber pela Figura 5 que a América do Norte e a Europa são responsáveis por quase 2/3 da produção atual. Ásia e América do Sul são responsáveis por pouco mais de 30% da produção mundial. Todavia, é importante mencionar a redução da importância da América do Norte e da Europa, ao longo destes 50 anos, em termos de produção mundial de celulose. Mais uma vez é fácil perceber que o período de mudanças no perfil da produção se deu em meados nos anos 90.
Outro aspecto relevante a avaliar é o contexto do fluxo internacional de celulose, juntamente com a produção em cada local, para compreender onde se dá o consumo final de celulose no mundo. A Figura 6 mostra que, em termos de exportações mundiais de celulose, o Hemisfério Norte representa quase o dobro do volume exportado pelo Hemisfério Sul. Os dados mostram que ambas as regiões têm apresentado crescimento do volume remetido ao exterior. Contudo, o Hemisfério Sul tem um crescimento bem mais expressivo do que o apresentado pelos países do Hemisfério Norte.
Contudo, é importante destacar que os países localizados no Hemisfério Norte também são os maiores importadores mundiais de celulose. Dessa forma, o Hemisfério Norte é simultaneamente a região responsável pelo volume de produção mundial de celulose, assim como o maior destino do comércio internacional do produto. A mesma Figura 6 mostra que, em termos de Saldo Comercial (volume das exportações menos o volume das importações), o Hemisfério Sul vem apresentando sucessivos e rotineiros incrementos de valor. Isso mostra que o Sul exporta um volume de celulose superior ao correspondente volume de importação. No sentido oposto, o Hemisfério Norte é deficitário, pois tem importado regularmente um volume de celulose maior do que o correspondente volume exportado.
Com essas constatações, é fácil compreender que o Hemisfério Norte representa o maior mercado mundial de consumo final de celulose. Dito isto, cabe agora voltar à pergunta inicial do artigo: quanto mais o Brasil suporta a expansão da produção de celulose, sem afetar a sua capacidade de abastecimento de madeira a um custo economicamente atrativo?
A resposta para a pergunta é simples: o Brasil continuará a ser atrativo para aumento da produção local de celulose, enquanto o custo econômico da operação florestal e industrial local permitir às empresas entregar a celulose no mercado consumidor mundial, com rentabilidade adequada sobre o investimento realizado. Mas este é um assunto para ser discutido em outro artigo. O importante, por agora, é que o Brasil está no páreo mundial para continuar o crescimento no mercado de celulose.
Veículo: Consufor
Imagem: Celulose Online