POR ABTCP – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA TÉCNICA DE CELULOSE E PAPEL
O setor brasileiro de produção e comercialização de celulose e papel tem se constituído em um dos principais e bem-sucedidos segmentos do agronegócio nacional. Trata-se de um setor com ampla gama de atividades, que se inicia na produção de florestas plantadas de Eucalyptus e/ou Pinus para obtenção da principal de suas matérias-primas, as árvores, continuando pelas suas modernas fábricas de celulose de mercado e de papéis, culminando com a comercialização de seus produtos no Brasil e em grande parte do planeta, graças ao seu foco exportador.
Em termos históricos, pode-se dizer que grande parte de suas conquistas são recentes, pois a fabricação comercial de celulose e papel no Brasil passou a ocorrer há pouco mais de um século. Já o modelo exportador tem pouco mais de 40 anos, tendo iniciado em meados dos anos 1970. Em 2019, o setor produziu cerca de 20 milhões de toneladas de celulose e 10,5 milhões de toneladas de papel. Desses totais, foram exportadas quase 15 milhões de toneladas de celulose de mercado e 2,2 milhões de toneladas de papel.
Alguns fatores foram determinantes para esse crescimento: em 1966, foi criado pelo Governo Federal o Programa de Incentivos Fiscais ao Florestamento e Reflorestamento (PIFFR), que perdurou por 20 anos; em 1974, foi lançado o 1.º Programa Nacional de Papel e Celulose (PNPC), que tinha como metas estimular a produção de celulose e papel com foco na exportação. Em 1974, ano de lançamento do 1.º PNPC, o Brasil produzia cerca de 1,29 milhão de toneladas de celulose e 1,85 milhão de toneladas de papéis. Em 2019, 45 anos depois, a produção de celulose corresponde a 15,5 vezes mais (6,3% ao ano no período) e a de papel 5,7 vezes (3,95% ao ano no período). Ambos os produtos abastecem os mercados nacionais e se exportam excedentes.
As florestas plantadas passaram a se constituir nos ali- cerces desses processos de industrialização e comercialização de produtos florestais para o Brasil e para o mundo. Principalmente porque a silvicultura brasileira conseguiria tornar essas florestas plantadas em líderes mundiais em produtividade florestal. Paralelamente ao crescimento do setor, também se desenvolveram as pesquisas científicas e tecnológicas nas florestas e nas tecnologias industriais, o que tem ocorrido com a instalação ou modernização de centros de pesquisas públicos e privados para atendimento às necessidades do setor.
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Talvez o mais eficiente dos fatores para rupturas na forma de gestão do setor brasileiro de base florestal plantada tenham sido os resultados da Earth Summit de 1992 – Conferência Mundial das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, aqui no Brasil conhecida como Rio-92 ou Eco-92. Dessa conferência resultaram dois importantes aceleradores: o fortalecimento do conceito de Desenvolvimento Sustentável e a importante “Declaração das Florestas”. Como consequências dessas propostas surgiram e se estabeleceram rápida e globalmente os sistemas de certificação florestal de bom manejo e logo depois de cadeia de custódia e as normas de qualidade e socioambientais da ISO – Internationa Organization for Standardization, séries ISO 9.000 e 14.000 e da OHSAS – Occupational Health &Safety Assessment Series 18.000. O setor brasileiro de celulose e papel abraçou rapidamente esses sistemas como forma de conquistar credibilidade e visibilidade de suas ações positivas em temas socioambientais. A “vantagem escondida” desses sistemas, só descoberta ao serem utilizados, é de que a gestão empresarial fica muito mais comprometida e participativa, graças aos desafios que esses sistemas incutem e motivam nas pessoas. Também as auditorias de terceira parte agregam mais visibilidade, confiabilidade e credibilidade aos desempenhos empresariais. Ao final do milênio passado, praticamente todas as empresas do setor de celulose e papel que exportam produtos já tinham obtido ou estavam trabalhando para obter esses certificados ou selos ambientais.
Ao início dos anos 2000, o setor brasileiro de celulose e papel teve uma nova época de expansão, mas já dispondo de engenharia e de equipamentos com desempenhos muito mais ecoeficientes, com menores impactos ambientais, principalmente pela redução substancial de geração de poluentes, de reciclagem dos mesmos e de reduções de consumos específicos de insumos (água, energia, madeira) e aumento de rendimentos.
O conceito de sustentabilidade se tornou global, sendo que se passou a acreditar que a sustentabilidade é uma rota de busca sem fim, pois ela sempre precisa estar sendo aperfeiçoada conforme a ciência for evoluindo e mostrando outras realidades comprovadas sobre a natureza e sobre o ser humano no planeta.
No setor industrial de base florestal, a sustentabilidade tem sido visualizada sob quatro vertentes:
- Sustentabilidade da própria empresa e de seus negócios, através de seus desempenhos, eficácias e competitividade.
- Sustentabilidade da capacidade produtiva de suas áreas florestais plantadas.
- Sustentabilidade do ambiente regional, englobando as florestas plantadas, as bacias hidrográficas e as matas nativas nas áreas de influência do empreendimento.
- Sustentabilidade das pessoas que trabalham e interagem direta ou indiretamente com os empreendimentos florestais e industriais, incluindo as comunidades e populações tradicionais circunvizinhas.
Com base nessas realidades apresentadas, é importante conhecer algumas peculiaridades desse setor nos aspectos florestais, industriais e mercadológicos, que são:
- As florestas plantadas e cultivadas constituem-se nos alicerces do setor de base florestal frente aos excepcionais ritmos de produtividade atingidos, considerados referências mundiais. Valores médios nacionais em 2018 relatados pela Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ): Eucalyptus (36 m³/ha ano) e Pinus (30 m³/ha ano).
- As florestas produzidas pelo setor de celulose e papel são estruturadas e planejadas para atendimento a um manejo florestal responsável e certificado por terceiras partes. Elas são instaladas em um esquema de mosaico ecoflorestal, onde áreas de plantações de árvores para fins industriais se mesclam com áreas de florestas nativas preservadas. O setor brasileiro de base florestal plantada possui atualmente cerca de 7,8 milhões de hectares de florestas plantadas e ao mesmo tempo cuida e protege permanentemente de cerca de 5,6 milhões de hectares de áreas de conservação e preservação de recursos naturais. Ou seja, para cada hectare de floresta plantada para uso industrial se conserva 0,7 hectare de recursos naturais regionais. As áreas preservadas se constituem em patrimônio natural protegido para as gerações futuras nos biomas brasileiros onde o setor atua (Mata Atlântica, Cerrado e Amazônia), sendo que isso acontece como Áreas de Preservação Permanente (APP), de Reservas Legais (RL) e de Reservas Privadas de Patrimônio Natural (RPPN). A proteção da biodiversidade e dos recursos hídricos são prioridades em todas as fases dos projetos florestais e de suas interfaces industriais.
- O suprimento das fábricas de celulose é realizado por meio de florestas próprias certificadas ou de produtores rurais fomentados ou terceiros. As empresas incentivam a certificação florestal também de seus fornecedores de madeiras.
- O setor de base florestal plantada no Brasil é um setor com grandes escalas de produção, mas são grandes também os benefícios gerados. O setor representa 7% do PIB industrial brasileiro, está presente em mais de 20 estados e mais de 1.000 municípios estão em zonas de influência da indústria de base florestal, prioritariamente no interior do Brasil, afastados dos grandes centros. Dessa forma, também colabora para a melhoria significativa da qualidade de vida, medida por meio do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) nesses municípios. Esse setor gera 3,8 milhões de empregos, diretos, indiretos e de efeito renda. Essa dimensão coopera não apenas para a geração de empregos diretos, mas também para a criação e fortalecimento de milhares de empresas que atuam e fazem interface com o setor florestal.
Algumas forças motrizes colaboraram para as alterações das relações e posturas do setor de celulose e papel com a temática da Sustentabilidade. Isso pode ser notado a partir das seguintes considerações sobre o comportamento atual de governança setorial em busca de sua competitividade alicerçada pela sustentabilidade:
- O setor de celulose e papel passou a reconhecer que problemas localizados de algumas empresas e de gestão do meio ambiente de grande parte delas no passado acabaram por deteriorar a sua imagem e as suas relações com algumas comunidades. Foi um ponto vital de busca de melhoria contínua em todas as empresas, principalmente pelas empresas certificadas em suas florestas e fábricas.
- De atitudes reativas e reclamativas do passado (anos 1970 a 1980) o setor assumiu uma proatividade disruptiva buscando sistemas de gestão novos através das certificações (anos 1990), para finalmente adquirir uma compromissada prática de busca da sustentabilidade (anos 2000).
- Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento têm acontecido tanto nas áreas florestais como industriais, por meio de projetos das empresas do setor, centros de pesquisa próprios ou consorciados, de universidades e fornecedores de tecnologia e engenharia. Os avanços conseguidos permitiram a introdução no setor de florestas plantadas e fábricas de última geração tecnológica. Tecnologia, estado da arte e modernização tecnológica no campo e nas fábricas são vitais para empresas como as de celulose e papel que dependem de escala de produção e custos baixos de produção. Atualmente, qualquer nova linha de produção de um novo projeto ou de modernização de uma fábrica existente só é aprovada se houver implantação das melhores tecnologias disponíveis – Best Available Technologies (BAT).
As práticas de ecoeficiência e de continuidade operacional associadas à gestão responsável e à modernização tecnológica não são úteis apenas ao meio ambiente,mas também representam resultados econômicos para as empresas, por meio da redução de desperdício se tempos perdidos de operação,retrabalhos etc. O meio ambiente ,que no passado era considerado como um custo amais,passou a fazer parte das estratégias empresariais para tornar o negócio mais eficiente,durável,com menos poluentes,melhores eficiências e resultados,inclusive socioeconômicos.
- As certificações florestais e desiste mas de gestão socioambientais fortaleceram o pilar social no setor,humanizando suas ações dentro e fora das empresas. Comunicação,transparência e diálogo com as partes interessadas passaram a fazer parte dos sistemas gerenciais das empresas,inclusive ao longo das linhas de coman do empresariais.
6.O diálogo com as partes interessadas,que em tempos passados era até mesmo temido,passou a ser praticado em Fóruns de Diálogo Florestal, em eventos de interesse público,e principalmente nas audiências públicas para análises, debates,sugestões e validações de Estudos de Impacto Ambiental denovos projetos.
7.A governança das empresas foi gradualmente incluindo os fatores de bem-estar social, saúde,segurança,educação,cultura e felicidade das pessoas em suas metas.Diversas empresas do setor têm sido relacionadas com destaque em premiações do tipo “melhores empresas para se trabalhar no País”.Outro aspecto relevante dentro da governança atual é a disposição das empresas em compartilharas riquezas e as disponibilidades do empreendimento com as comunidades.Isso acontece por intermédio de projetos educativos,culturais,de parcerias com os produtores rurais (fomento florestal, agricultores agro-ecológicos, pecuaristas e apicultores),com os fornecedores locais (compras regionais de insumos gerais, madeira, combustíveis etc.).Esses projetos desenvolvidos com as comunidades transferem importante parcelados recursos financeiros da empresa para as comunidades que estão inseridas nas áreas de influência da empresa.Trata-se não apenas de um processo de compartilhamento,masdeganha-ganha para as empresas e a sociedade.
8.As empresas do setor de celulose e papel passaram a apresentarem seus planos estratégicos diversos compromissos socioambientais que são tornados públicos para a sociedade.Isso dentro de maior transparência e diálogo.Dentre esses compromissos se incluem também compromissos na esfera da Sustentabilidade Global, como: Pegada Hídrica (uso de água nas florestas e nas fábricas); Pegada de Carbono (reduções na utilização de carbono fóssil e produção e consumo de biomassa renovável),Incentivo à Reciclagem e Uso Consciente do Papel, Combate ao Desmatamento, Mitigação dos Efeitos Climáticos,Combate à Pobreza etc.
9.A busca da sustentabilidade passou a ser atividade vital e consolidada por todos nas empresas líderes do setor de celulose e papel, sendo buscada por ações e políticas em todas as áreas que compõem o complexo empresarial (florestas, fábricas, portos, setores administrativos etc.)e nas suas interfaces externas (comunidades ,fornecedores, empresas terceirizadas, produtores rurais etc.).
O mundo se transforma a cada momento, novas demandas surgem, novos produtos são criados, enquanto outras tecnologias, produtos e costumes irão sendo destruídos. As mudanças são as grandes promotoras de evoluções tanto no sentido de criação como de destruição. O setor de celulose e papel está consciente que muitos de seus produtos estarão em processo de envelhecimento e desaparecimento. Isso motiva as pessoas do setor a buscar em constantemente novas plataformas de produtos, serviços e negócios. É o que está acontecendo exatamente há cerca de uma década,quando todo o setor celulósico-papeleiro,no Brasil e no mundo,está buscando o desenvolvimento de outros produtos a partir da biomassa florestal e agrícola,que se jamúteis e desejados pela sociedade. Através do conceito de biorrefinarias integradas às fábricas de celulose e papel,o setor tem buscado desenvolver produtos com base nos componentes químicos da biomassa florestal, como derivados de ligninas,dehemiceluloses,daprópriaceluloseedosextrativosdamadeiraeresíduosflorestais.Abioeconomiaéumcaminhonovoqueasempresasdosetordeceluloseepapelestãocomeçandoatrilhar.
Os aspectos relacionados à busca de sustentabilidade encontrarão certamente novos desafios, em novas rotas tecnológicas. As pessoas do setor sabem disso e sabem também que as escolhas podem ser pelolado do acerto ou do erro.Por essa razão, o setor desenvolve suas pessoas no sentido de manter alta a bandeira da sustentabilidade, algo que parece que está definitivamente consolidado,mas como que não se pode descuidar.
Para encerrar esse texto, nada melhor do que refletir sobre o recente pronunciamento da engenheira florestal Luciana Maria Papp, presidente do conselho diretor do FSC Brasil,em recente evento virtual Live FSC Forest Stewardship Council no dia 09.09.2020:Responsabilidade Socioambiental na Produção Florestal–Um exemplo a seguir:“Nenhum setor tem a experiência e a tradicionalidade de tanto tempo trabalhando em prol da sustentabilidade como o setor de florestas plantadas no Brasil”.
Por ABTCP
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