Por Manoel Francisco Moreira
O mercado de toras para madeira sólida vive, atualmente, há cercade dois meses, uma crise histórica de mercado, salvo algumas exceções, causada especialmente pelo mercado externo. Senão vejamos:
– Os americanos se prepararam para o período anual de furacões que este ano foram poucos; consequentemente ficaram estocados de madeira, especialmente de laminados.
– O surgimento de um micro coleóptero (besourinho) na Alemanha obrigou-os a cortar áreas não previstas e obviamente colocar a madeira no mercado.
– O mercado asiático, embora pareça promissor, se mostra muito volátil.
– Internamente os fornecedores de toras dos exportadores dirigiram suas vendas às empresas voltadas ao mercado doméstico, cujo resultado foi a super estocagem e a queda nos preços.
Por todo esse cenário, o que acontece é que o mercado de toras, especialmente de eucalipto, sofre com a queda nos preços e a dificuldade de colocar seu produto.
O produtor independente de madeira plantada, já pressionado pelos preços baixos da madeira fina há anos, fica cada vez mais decepcionado e desestimulado com seu negócio. É aí que reside minha preocupação como consultor florestal: o futuro da madeira sólida oriunda de florestas plantadas.
A Ibá- Indústria Brasileira de Árvores, em sua página principal na internet, apresenta dados interessantes sobre os quais quero discutir em prosseguimento à preocupação relatada, exatamente conforme expõe-se abaixo:
*As áreas de árvores plantadas no Brasil atingem cerca de 7,84 milhões de hectaresde eucalipto e pinus, e demais espécies(acácia, araucária, paricá e teca), para os seguintes segmentos:
Deste total estima-se que os seguintes setores detêm os percentuais:
35% – celulose e papel
13% – siderurgia e carvão vegetal
6% – painéis de madeira e pisos laminados
9% – investidores financeiros (TIMOs)
30% – produtores independentes
4% – produtos sólidos de madeira
3% – outros
* Dados: iba.org/dados-estatisticos
Como se vê da relação acima, os produtos sólidos de madeira detêm apenas 4% do montante o que certamente não atende sua demanda, a qual deve ser suprida teoricamente pelos produtores independentes, que ainda são 30% do total.
A produção de toras só pode vir de áreas manejadas e os produtores independentes com todas essas crises têm tido grande dificuldade em manejar seus maciços. Em verdade há dificuldade de entender que o manejo é a saída para se obter rendimento financeiro de um empreendimento florestal. O que se vê são poucos produtores independentes manejando seus maciços.
Infelizmente em nosso País, especialmente na área florestal, a falta de dados estatísticos é flagrante. Assim não podemos projetar qual o volume que estará disponível aos produtores de madeira sólida nos próximos anos.
Fala-se em apagão. Eu mesmo já o mencionei em artigos anteriores, porém este poderá acontecer antes mesmo das previsões, não pela falta de florestas, mas pela falta de florestas manejadas.
A indústria de madeira sólida quase sempre se abasteceu das florestas das papeleiras, porém hoje essas estão deixando de fazer desbastes, por motivos óbvios. O fato é que cada vez mais escasseia a madeira grossa. E a única fonte são as florestas dos produtores independentes que, imaginando-se corretos os percentuais acima, a área disponível seria de 2,35 milhões de hectares, espalhados pelo Brasil e carecendo de que seus proprietários sejam convencidos de que os desbastes é que trarão rendimento financeiro ao empreendimento.
Vejo muitas entidades florestais promovendo as florestas sob vários ângulos, principalmente o reflorestamento, cujas iniciativas considero meritórias, porém muito pouco ou quase nada sobre manejo florestal (desbastes).
Acho que está na hora de acordar e a iniciativa de jogar água na turma deverá ser da indústria de madeira sólida. Isto não resolverá a crise de mercado atual, mas evitará outra crise, talvez pior, qual seja a falta de madeira grossa.
Manoel Francisco Moreira é Engenheiro Florestal e Consultor.
Por Redação Madeira Total
Imagem: Madeira Total