Após três anos de recessão, a maioria dos analistas espera a retomada do crescimento da economia em 2017, com um crescimento do PIB de 0,50% neste ano, e de 2,2% em 2018, de acordo com as previsões do Boletim Focus (relatório divulgado semanalmente pelo Banco Central).
Ao que parece, o País atingiu o fundo do poço e agora caminha para uma trajetória de desenvolvimento. Contudo, é necessário compreender o porquê da lenta recuperação esperada para este ano e quais são os gargalos a serem superados para que a economia ganhe mais dinamismo.
Um indicador econômico merece atenção especial para analisar as possibilidades de crescimento econômico de um país: o Produto Interno Bruto Potencial. Este conceito pode ser entendido como a capacidade de produção de uma economia utilizando todos seus recursos disponíveis, sem pressionar a inflação.
Diferentemente do PIB efetivo – que trata do valor total dos bens e serviços finais produzidos em um país -, o PIB potencial não é diretamente observável. Sua taxa de crescimento é estimada por pesquisadores de diversas entidades, como o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e o Banco Central.
Podemos aprender algumas lições a partir da observação da trajetória do PIB potencial brasileiro nos últimos anos. Há consenso de que o PIB potencial dos dois últimos anos estava bem abaixo do PIB potencial da década passada. De acordo com estudo do banco BBVA, a variação do PIB potencial médio no período 2000-2010 foi de 3,5% por ano, enquanto a variação do PIB no mesmo período foi cerca de 3,7% por ano.
O mesmo estudo do BBVA apontou um PIB potencial em 2015 e 2016 de 2,2% e 1%, respectivamente, enquanto o PIB real no ano de 2015 decaiu em 3,8% e em 2016 cerca de 4%. Atualmente, a equipe econômica do governo trabalha com um PIB potencial para 2017 de 1,5% e, como dito acima, o mercado tem esperança de um crescimento do PIB de 0,5%. Portanto, é visível que o potencial da economia se reduziu nestes anos, quando comparamos com o período entre 2000 e 2010 – o que dificulta a saída da recessão.
Para entender a queda deste indicador, vale destacar a queda da produtividade e dos investimentos, que também se refletiram na redução do PIB efetivo. Além disso, com relação à perspectiva de crescimento de longo prazo da economia, devem ser lembrados fatores estruturais da dinâmica da demografia brasileira. O Brasil passa por um processo de afunilamento de sua pirâmide etária – o que implica que a longo prazo teremos maior volume na população de idosos e crianças em relação à população economicamente ativa. Em um país com histórico de baixo crescimento de produtividade, crises fiscais frequentes e déficits previdenciários crescentes, a preocupação é inevitável.
Dessa forma, considerando o baixo potencial do crescimento do PIB em 2017, trazem certo alívio projeções de um aceleramento da economia no final deste ano – a um ritmo anualizado de 2% ano -, que poderá ser carregado a 2018. Enfim, a luz no fim do túnel.
Contudo, tendo em vista os problemas estruturais da economia brasileira que geraram a maior recessão da história do País, e dificultaram a retomada da atividade, faz-se necessária uma agenda voltada para o desenvolvimento da produtividade e para o aumento das taxas de investimento, visando o crescimento econômico sustentável a longo prazo.
Pautas como a PEC que impõe um teto aos gastos públicos e a Reforma da Previdência são necessárias para a retomada da confiança e aumento dos investimentos, mas é preciso dar atenção a outros aspectos. Apesar de positivos, o ajuste fiscal e o reequilíbrio da macroeconomia não serão suficientes para gerar uma revolução na taxa de investimento brasileira, e terão somente efeitos indiretos sobre a produtividade média do trabalhador. Portanto, faz-se necessário resgatar uma agenda microeconômica que permita ganhos significativos de produtividade e ao mesmo tempo aumento nas taxas de investimento privado – tendo em vista a restrição orçamentária apresentada pelo governo em meio à crise fiscal.
Nesse âmbito, destacam-se a flexibilização trabalhista, o avanço de programas de concessão e privatização em infraestrutura, atuação prudente do BNDES no financiamento de atividades que como saneamento e energia, maior eficiência no gasto público com educação – buscando melhora em rankings internacionais como o PISA e melhor preparação de jovens para o mercado de trabalho -, reforma e simplificação da estrutura tributária e, por fim, facilitar as estruturas para fazer negócios no Brasil. Em suma, redução do custo Brasil, racionalização dos investimentos públicos e maior produtividade do trabalhador.
Post em parceria com João Sautchuk, graduando em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas e consultor pela Consultoria Júnior de Economia
Por Samy Dana do G1