Proposta do empreendimento, criado há quatro anos em Brasília (DF), inova mercado de investimentos florestais no país, abrindo à participação de pequenos investidores
O plantio de florestas é um nicho bem-sucedido do mercado florestal mundial, no qual grandes empresas e investidores aportam enorme volume de recursos para lucrarem com o comércio de madeiras nobres. Democratizar esses investimentos, reaproveitando áreas degradadas no Brasil para produzir matéria-prima de alta qualidade foi o diferencial proposto pela Radix Investimentos Florestais, uma pequena empresa de Brasília (DF), com terras em Roraima, que vem trabalhando na mudança de paradigmas da atividade extrativista na Amazônia.
“Antes, investir em floresta era uma modalidade muito conhecida principalmente nos Estados Unidos, mas era coisa para grandes investidores. O que a gente fez foi tornar esse tipo de investimento acessível à qualquer pessoa; um título nosso custa cerca de R$ 400 e o investidor compra quantas títulos sua capacidade financeira permitir”, explica Gilberto Derze, ex-analista de sistemas e sócio-fundador da empresa. Thiago Luiz Silva Campos, que trabalhava no mercado financeiro, é o outro sócio do empreendimento.
Além de democratizar o mercado, barreiras financeiras tiveram de ser transpostas para concretizar o negócio inovador, baseado em financiamento coletivo. “Plantamos e extraímos madeira todos os anos, respeitando um ciclo completo de 20 anos. Isso demanda um investimento alto, então encontramos no crowdfunding uma forma de captar os recursos necessários para chegar aonde a gente quer com o empreendimento”, explica a empresário.
A Radix foi fundada oficialmente em 2015, realizando o primeiro plantio de 10 ha, no ano seguinte, na fazenda do sogro de Gilberto em Unaí (MG). Depois, os dois sócios compraram uma terra em Roraima, onde foram plantados os módulos dois e três do cultivo, que somam 40 hectares. Em 2017, a empresa publicou sua primeira oferta de títulos florestais. Neste ano, a empresa totalizou 70 ha plantados.
Mogno Africano
O mogno africano (Khaya ssp.) é a árvore escolhida para os plantios da Radix, porque esta espécie é bem adaptada ao Brasil e é resistente à ‘broca-do-ponteiro’, uma praga que ataca o mogno brasileiro (Swietenia macrophylla). Outro motivo que levou Gilberto e Thiago a escolherem o mogno africano foi o fato de a extração do mogno brasileiro estar proibida, pois é considerado em extinção.
A Radix também aposta no plantio de mogno africano em áreas degradadas e desmatadas, pois além de ser uma madeira nobre apresenta crescimento mais rápido do que outras, reduzindo em cerca de 30 anos o tempo para fornecer madeira de alta qualidade ao mercado.
No Brasil o investimento florestal está concentrado em pinus e eucalipto. Essas duas espécies têm ciclo rápido, permitindo o corte mais cedo, mas são madeiras leves. O mogno, por sua vez, tem ciclo de 20 anos, porém alcança maior valor agregado por ser uma madeira dura, garantindo retorno bem mais alto.
Como os dois sócios não tinham conhecimento florestal, no início, foram apoiados pelo Instituto Brasil de Florestas. Hoje, contam com Rodrigo Machado, agrônomo especialista em mogno africano.
Há cerca de cinco anos, o mercado nacional começou a demandar mogno africano, informa Gilberto. O plantio desta espécie pode colaborar com a redução da extração ilegal de madeiras no país. “Nossa ideia é criar um mercado positivo de produção dessa madeira. Plantada, e não nativa. Quando eu tirar essa madeira, vou fornecer ao mercado e evitar que a nativa seja retirada”, argumenta.
Como funciona
Cada hectare plantado da Radix possui 200 cotas. As ofertas de títulos florestais são divulgadas no site do empreendimento: www.radixflorestal.com.br A aplicação é única, sem mensalidades e taxas. A emissão dos títulos é feita pela Basement, uma plataforma de crowdfunding de investimentos com registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Entre final de agosto e início de setembro passado, cada cota valia R$ 450.Nesse período, 197 investidores compraram cotas, totalizando cerca de R$ 595 mil. A empresa investe 30% no manejo da floresta, 65% no fundo de custeio e expansão, e 5% em um fundo socioambiental. Atualmente o empreendimento conta com 470 investidores.
“A empresa fica com uma parte dos módulos plantados, porque esse é nosso lucro lá na frente, assim como o investidor, que também passa a ser sócio. Trata-se realmente de um investimento coletivo”, enfatiza Gilberto. Nessa perspectiva, o investidor contribui para maximizar ganhos, aumentar a produção e escalar o projeto.
Ele relata que a empresa enfrentou resistências para conquistar a adesão de pequenos investidores, pois a proposta era inovadora para investimentos a longo prazo. “Devido à desconfiança e mentalidade de retorno rápido, as pessoas acabam não investindo no plantio de madeira, o que acarreta em desmatamento excessivo de mata nativa. Retira-se mais madeira do que as florestas são capazes de recompor e isso vai gerando o aquecimento da temperatura no planeta, entre outros danos ambientais”, analisa Gilberto.
Ganhos financeiros e ambientais
Diante da expansão do investimento florestal no Brasil, ele e o sócio vão continuar investindo no florestamento de madeira nobre. “É diferente do que se faz por aí com o reflorestamento de eucalipto, que tem um investimento a curto prazo, mas não tem um apelo ambiental tão interessante quanto a madeira nobre, que hoje é basicamente oriunda de florestas nativas”, compara.
Em apenas quatro anos, 45 mil árvores foram plantadas e 4.200 cotas foram vendidas, pela Radix, preservando centenas de árvores nativas e absorvendo milhares de quilos de CO2 da atmosfera. A meta inicial da empresa era plantar 2 mil ha de árvores para corte, mas pode chegar a 4 mil ha, ao final do ciclo de 20 anos.
Fracionando o plantio em módulos de 20 a 100 ha, com pontos de maturação distintos, a ideia é ter madeira para entregar todo ano aos setores moveleiro, de instrumentos musicais e outros que demandam matéria-prima constantemente.
Gilberto esclarece que o solo utilizado para o plantio passa por melhoramentos, podendo ser reutilizado, após a retirada da madeira. “Queremos que a empresa se perpetue após o fim do primeiro ciclo. Hoje, estamos estudando a plantação de florestas secundárias. A ideia é que, quando a gente retirar a floresta primária, uma secundária já esteja em crescimento”, informa. A rentabilidade do negócio será maior e, desse modo, o ciclo produtivo será totalmente sustentável. (www.radixflorestal.com.br )
Por Vanessa Brito
Imagem: Divulgação