O Observatório do Clima e o Instituto Socioambiental publicaram nesta sexta-feira uma nova edição do Agromitômetro, uma checagem periódica de afirmações e dados dos ruralistas sobre o suposto conflito entre produção rural e meio ambiente. Desta vez, o pente-fino foi sobre as afirmações de Evaristo de Miranda, chefe da Embrapa Territorial e eminência parda do Ministério do Meio Ambiente no governo Jair Bolsonaro (PSL).
Num vídeo gravado no ano passado, mas que viralizou neste mês de janeiro (enquanto o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, questionava na imprensa o Inpe e dizia que o Brasil era “credor” na proteção do clima), Miranda afirma que o número de áreas protegidas e a quantidade de reserva legal nas propriedades privadas fizeram o Brasil “encolher”, tornando terras indisponíveis para o agronegócio. Diz também que o país é “campeão absoluto” em preservação, argumento repetido por Bolsonaro em seu discurso-relâmpago no Fórum Econômico Mundial. As afirmações do agrônomo contêm erros e distorções.o número citado por ele de 30% de áreas protegidas “fora de produção”, por exemplo, está inflado. Além disso, o Brasil não é o país do mundo que mais preserva florestas — nem em números absolutos, nem em relativos.
As falhas tornam-se mais graves pelo fato de Miranda ter virado uma espécie de cientista de estimação do presidente Jair Bolsonaro. Convidado a ser ministro do Meio Ambiente, declinou, mas operou a transição da pasta juntamente com o ora ministro Ricardo Salles (Novo-SP) depois que o presidente demitiu a equipe originalmente encarregada da tarefa. É Miranda quem abastece Salles de “inteligência territorial”, como ele próprio já afirmou.
Na checagem, as organizações usaram novos dados do MapBiomas, uma rede de 15 instituições que mapeou todas as mudanças no uso da terra no Brasil desde 1985, além do Atlas da Agropecuária do Imaflora e da Esalq-USP e fontes como FAO e Banco Mundial.
Por Observatório do Clima
Imagem: Ilustração