Como a tecnologia está transformando propriedades rurais em empresas altamente eficientes e preparadas para os desafios da produção de alimentos no mundo
Com desafios como aumentar a produção de alimentos para atender ao crescimento da população, melhorar a eficiência energética, e consumo sustentável de insumos, a propriedade rural passou a ser administrada como uma empresa, com gestão e controle sobre as atividades, evitando desperdício e entendendo melhor o funcionamento de todos os setores. O mercado de grãos, por exemplo, apresenta aumento de produtividade ano a ano, com o apoio da tecnologia, segundo o vice-presidente do Crea-PR, Otavio Perin Filho. “No final da década de 1980, início da década de 1990, tínhamos a produtividade de 100 a 120 sacas de soja por alqueire, enquanto que nos dias de hoje temos a produtividade de 170 a 200 sacas na mesma área. Hoje temos agricultura de precisão, o que nos dá melhores condições de aumento de produtividade, com máquinas e insumos modernos. Temos também alta tecnologia em desenvolvimento de sementes, o que garante maior produtividade em uma mesma área cultivada. Em estudos, temos o desenvolvimento de sementes que necessitam de menor volume de água para seu desenvolvimento e produtividade”, conta Perin, enumerando alguns dos ganhos da agricultura 4.0.
Tecnologia para aumentar a produtividade
O apoio das startups é fundamental para acelerar a evolução do agronegócio. Segundo a Organização das ações Unida para a Alimentação e Agricultura (FAO), a população mundial será de 9,1 bilhões de habitantes em 2050, o que geraria a necessidade de um crescimento de 70% na produção de alimentos em relação ao que é produzido hoje.
A startup Azagros Agrotecnologia desenvolveu uma plataforma para gestão de equipe técnica de empreendimentos agrícolas, focada em melhorar o relacionamento entre técnicos e produtores. A plataforma conecta uma revenda agrícola com o produtor e com seu consultor, um engenheiro agrônomo. Ao disponibilizar para o produtor rural essa ferramenta, a revenda consegue mapear todo o histórico da propriedade atendida, criando uma linha do tempo do cliente, por safra, e possibilitando uma leitura de situações mapeadas. “Na versão para produtores orgânicos, esse registro disponível é fundamental para a rastreabilidade dos produtos e para a certificação de talhão, que é uma porção da propriedade. O que ficaria numa agenda ou num relatório engavetado fica disponível online, em sua versão web ou móvel, em qualquer horário e lugar, possibilitando análises preditivas”, explica o CEO.
“Quanto maior for o percentual de agricultores impactados e estimulados pela tecnologia, da revenda agrícola ao produtor familiar, melhor vai ser nosso processo produtivo e maior vai ser a sustentabilidade do agronegócio. Não falo apenas de produtos virtuais, como nossa plataforma, mas de produtos palpáveis e altamente tecnológicos. Em minha opinião o desafio principal é produzir tecnologias com valores acessíveis ao produtor e que agreguem na produtividade, sempre atrelando tudo isso à sustentabilidade”, finaliza o especialista.
O engenheiro agrônomo do Crea-PR, professor universitário da UTFPR e doutor em Agronomia, Almir Antonio Gnoatto, vai além. Para ele, os engenheiros que não integrarem as novas tecnologias e as soluções rápidas das startups a suas entregas, ficarão obsoletos.”Com apoio das startups, o engenheiro agrônomo consegue entregar mais segurança a seu cliente, com a possibilidade de rastreabilidade, por exemplo. Com aporte de novas tecnologias, a entrega do engenheiro vai além do serviço contratado. Ele passa a entregar valor. Quem não compreender isso, estará fora do mercado de trabalho em pouco tempo. É do jogo do conhecimento”, alerta o especialista, sobre a mudança sem volta na produção agrícola.
Por Denise Morini
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